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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Bronwyn Turner

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O importante é amar, n.º 616 - julho 2019

Título original: Beyond Control

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-508-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Se Kree O’Sullivan tivesse de imaginar o homem perfeito, seria muito parecido com o homem que estava no jardim da sua casa… de preferência sem fato e gravata. Kree fechou uns olhos por um momento e quando os abriu novamente, o homem continuava ali.

Não era uma visão, era real.

Que fazia aquele homem no jardim que ligava a sua casa ao salão de beleza? Rodeado por uns rododendros parecia completamente deslocado.

Seria do banco?

Não, ninguém do banco andaria por ali numa sexta-feira às seis da tarde só para dizer-lhe que tinha a conta a descoberto. Limitar-se-iam a telefonar-lhe.

Alem disso, tinha uma reunião no banco na segunda, às nove da manhã.

E mesmo que tivessem enviado alguém não seria um tipo como aquele. Kree observou-o a olhar para o alto, como se estivesse a inspeccionar o piso de cima…

– Não é do banco – murmurou, levando uma mão ao peito. Cabelo escuro, olhos escuros, fato escuro. Parecia um advogado da televisão. Ou um desses executivos milionários.

Mas não podia ser. Que iria um executivo milionário fazer a uma povoação tão pequena como Plenty, Austrália? De vez em quando, via-se passar um ou outro, no seu descapotável, em direcção às quintas de vinhos, mas Kree apostaria as suas novas botas de falsa pele de cobra que o seu visitante não estava ali por casualidade. Tinha todo o aspecto de saber onde estava e o que queria.

– Que te traz a minha casa? – murmurou.

O melhor seria perguntar-lhe directamente.

O estranho voltou-se ao ouvir o ranger da porta…

E quando cravou o olhar nela, Kree teve de engolir em seco. Era lindo. Maçãs do rosto salientes, queixo rectangular… aquele homem tinha uma cara que faria um estilista chorar de alegria.

Mas foi o seu corpo, não o seu olho de estilista, que respondeu de imediato àqueles olhos negros como a noite. Foi o seu coração de mulher que deu um salto.

– Olá – disse, quando recuperou a voz.

– Deseja algo?

Tinha um sotaque britânico, pensou Kree, antes de pensar que era ela quem deveria ter feito essa pergunta.

– Se quero algo? Poderia começar por dizer-me que faz no meu jardim.

– No seu jardim? – repetiu o estranho.

Kree assustou-se.

– Não será você o novo proprietário, não?

– Não.

– Ah, menos mal. Chamo-me Kree O’Sullivan – Kree ia estender-lhe a mão, mas decidiu limitar-se a um sorriso. – Sou a proprietária do salão de beleza.

– Ah sim? – sorriu ele, irónico, olhando para o seu cabelo.

Kree corou. Mas não compreendia por que se preocupava tanto com a opinião daquele estranho.

– Pois sim. E não me disse o seu nome.

– Sinclair.

– Sinclair? Mais nada?

– Sebastian Sinclair.

Felizmente, Sebastian Sinclair não parecia ter a intenção de estender-lhe a mão.

– Pensei que já teria fechado. Não queria incomodá-la.

– Não acha que um homem estranho no meu jardim me incomoda?

– Pareço-lhe estranho? – sorriu ele, arqueando uma sobrancelha.

Sim, definitivamente, ele parecia-lhe estranho. E perigoso.

– Não o conheço, portanto é um estranho. E não compreendo o que faz aqui.

– Vim inspeccionar a casa em nome do proprietário.

«Em nome do proprietário». O herdeiro de Allan Heaslip que, além daquela casa, tinha herdado vários locais na povoação.

– Espero que a proprietária não seja Claire Heaslip.

– Não.

Kree suspirou, aliviada.

– Já imaginava, mas com essas coisas nunca se sabe. Então, quem é o misterioso herdeiro? Toda a gente está ansiosa por saber.

– Toda a gente?

– Já sabe como são as terras pequenas. Todos se metem na vida de todos – suspirou Kree. – Oiça, Sebastian Sinclair, é sempre tão difícil assim arrancar-lhe informação?

– Receio que sim.

Ela soltou uma gargalhada.

– Muito engraçado, Sebastian… ou devo chamar-lhe Seb?

– Podes chamar-me Seb. Mas não costumo ser engraçado.

Kree viu-se obrigada a sorrir. Pelo menos, tinha sentido de humor. Isso era muito atraente… ele era muito atraente. Mas sentiu o estômago oprimido ao ver os seus olhos de perto; porque não eram negros, mas de um azul-escuro, muito escuro.

– Seb não está mal. Sebastian é um nome demasiado formal, não achas?

– E o teu nome? Também não é muito comum.

– Chamo-me Kree, acredites ou não. Não sei de onde vem, na verdade… os meus pais devem ter-se enganado, decerto, ao registar-me. Ouve, disseste que estavas a inspeccionar a propriedade. Para quê? Para vendê-la?

– Não. Esta propriedade não é para vender.

Ah, muito bem. Informação a sério.

– Mas continuas sem contar-me nada. És advogado?

– Sou fiduciário.

«Fiduciário». Que raios significava isso? Kree soltou um suspiro de irritação enquanto observava «Dom Enigmático».

– Se o novo proprietário não pensa vender, achas que investirá na manutenção? Porque esta casa está quase a cair. E para mais é o edifício mais antigo da terra. Antes, foi um banco…

– Por dentro está tão mal quanto por fora?

– Estaria, se não o tivesse pintado eu mesma. Tive de fazê-lo para poder ter um inquilino.

– Segundo o contrato, tu és a inquilina.

– Sim, bem, mas é que depois me ofereceram a oportunidade de cuidar da casa de uns amigos que estão a viajar… Esta aqui – disse Kree, apontando para a casa do lado. – Por que iria desaproveitar a oportunidade de viver de graça numa casa muito mais nova que esta?

O homem arqueou uma sobrancelha, muito sério.

– Então, a casa está vazia?

– Sim, mas…

– Está mobilada?

A pulsação de Kree acelerou.

– Por que perguntas? Queres vê-la?

– Não te importarias?

– Não, não…

Que poderia dizer-lhe, que a enervava, que não queria estar sozinha com ele?

Seria uma resposta irracional e sabia-o. Além disso, não se importava que James visse a sua casa, por que se importaria que Sebastian Sinclair também a visse? Devia ser um advogado de Sydney e poderia, certamente, ajudá-la a convencer o dono a fazer as reparações necessárias.

– De qualquer modo, estava à espera de um amigo para mostrar-lha…

Seb observou-a a tirar as chaves do bolso. Demorou uns segundos, porque os jeans que tinha vestidos lhe ficavam muito justos. Nenhum homem poderia deixar de reparar nisso… nisso e no seu cabelo. E nos seus lábios. Seb teve de sorrir. Parecia muito cândida, muito inocente.

– Há séculos que tento que Paul mude a fechadura. Fica presa e … ah, já está.

Seb passara a tarde com Paul Dedini… quando por fim conseguiu que este se levantasse, depois de uma noite de bebedeira. Isso confirmou as suas piores suspeitas: o homem que dirigia a Imobiliária Heaslip era um irresponsável e era preciso despedi-lo. Imediatamente.

Não ia ser fácil pôr em ordem a empresa que a sua filha herdara em Plenty e teria de ficar ali durante algum tempo. Não o chateava, pelo contrário; era o tipo de desafio de que gostava. Mas passar várias semanas em Plenty, longe da sua empresa, era um inconveniente… e encontrar de imediato uma casa mobilada faria as coisas muito mais fáceis.

Seb observou os tectos altos e o chão de madeira brilhante, antes de observar a escada… ou, melhor, o traseiro de Kree O’Sullivan escadas acima.

Tinha de passar várias semanas em Plenty; várias semanas afastado das suas obrigações. E talvez não fosse ser tão aborrecido quanto pensava.

 

 

Dez minutos depois, Seb fez um esgar de horror.

Deveria ter-se lembrado que uma rapariga de cabelo ruivo, jeans com lantejoulas e t-shirt justa decoraria a sua casa como se decorava a si mesma. Os quartos estavam pintados às cores e os móveis, cada um do seu estilo, pareciam comprados na feira da ladra.

– Vives aqui desde quando?

– Vivi aqui em Plenty toda a vida – respondeu ela. – Tinha sete anos quando cheguei cá. Antes vivíamos na caravana do meu pai… mas avariou-se quando chegámos a Plenty, por isso ele decidiu que ficaríamos aqui.

– Aqui, nesta casa?

– Não, não… refiro-me à povoação. Só estou há um ano nesta casa. Antes partilhava um apartamento com a minha amiga Julia, mas ela casou-se com o meu irmão e… pronto, já estou, como sempre, a dar demasiada informação.

– Ora essa, parece-me fascinante – sorriu ele.

Na verdade, tudo em Kree O’Sullivan lhe parecia fascinante. E certas partes do seu corpo começavam a crescer só por estar a olhar para ela.

– Este é o quarto principal – prosseguiu ela, abrindo as cortinas.

Seb não prestava atenção às suas palavras mas à cama que havia no meio do quarto; uma cama enorme com cabeceira de bronze.

A cama de Kree.

Quando ergueu os olhos, ela estava a observá-lo com uma expressão estranha. Mas, em seguida, aclarou a garganta e continuou as explicações.

– Encontrei-a num antiquário e comprei-a porque ficava bem.

– Sim.

Ficava bem com o quê?, perguntou-se ele. Com os ornamentos do tecto ou com as suas noites de sexo selvagem?

– Agora, vivo aqui – disse então Kree, aproximando-se da janela. – É a casa de uns amigos que foram em tournée pela Europa com uma companhia de teatro. O jardim está um pouco descuidado…

– Há animais selvagens? – sorriu Seb.

– Só Gizmo, o gato. Ao princípio, arrendaram a casa a um casal europeu, mas não conseguiam dormir.

– Por causa do trânsito? – brincou ele.

– Não, por causa do silêncio – respondeu Kree, encostando-se à cómoda.

Seb achava-a irresistível. Com aquela boca grande, demasiado grande talvez para uma carinha tão pequena, era extremamente tentadora. Tanto que…

Sem pensar, levantou uma mão para acariciar-lhe o cabelo.

– Que fazes?

– Nada… era um bicho.

– O quê? – exclamou Kree, encostando-se para trás. – Ai! – gritou, ao bater com o cotovelo na cómoda. – Onde está o bicho?

– Já desapareceu.

Nesse momento, começou a tocar um telemóvel.

– Não vais atender? – perguntou Kree. – Eu… espero-te no outro quarto.

Seb cerrou os dentes ao ver quem estava a ligar. Uma reacção pavloviana. Falar com a sua filha de catorze anos sempre o levava a reagir assim.

– Papá? Sou Torie.

– Onde estavas quando te liguei antes?

– Em casa de Jesse.

– Não te disse que fosses para casa depois da escola? Tens que fazer a mala e…

– Não é preciso…

– Como não é preciso? Tenho de saber onde estás. A senhora Craig tem de saber sempre onde estás.

– O que ia dizer é que não tenho de fazer a mala.

– Porquê? A tua mãe ligou?

– Claro – suspirou Torie. – Vai para Inglaterra, por isso temos de fazer novos planos para as minhas férias.

Seb agarrou com força o telefone, furioso. Odiava aquelas conversas. E odiava a falta de controlo que tinha na vida da sua filha. Claire, naturalmente, não via nenhum problema em mudar de planos quando lhe conviesse.

«Victoria vai compreender», costumava dizer.

– Lamento, querida – suspirou Seb. – Vou ligar-lhe esta noite.

– É-me indiferente se passo ou não as férias com ela.

– Tens de passar, querida.

– Sim, pois… E entretanto faço o quê?

– Poderias passar uns dias a conhecer a tua herança – sugeriu Seb.

– Há bichos nessa terra?

Ele soltou uma gargalhada.

– Contei-te que o velho banco já não é um banco? Agora é um salão de beleza.

– A sério?

– Sim. Oficialmente, és proprietária de um salão de beleza.

– Um desses sítios a que as senhoras vão para pintar o cabelo de roxo, não?

-se os seus planos de provar aquela cama com a cabeleireira. Uma pena, mas a sua filha merecia qualquer sacrifício.

Suspirando, Seb guardou o telefone e foi dar uma vista de olhos ao outro quarto.

 

 

Não era uma cama perfeita, mas servia. De facto, quanto mais pensava no assunto, mais gostava da ideia. Mas era preciso pintá-la, claro. De branco.

Da varanda da sala conseguia ver a rua principal de Plenty. E, à frente dele, o escritório em que iria trabalhar…

Kree O’Sullivan estava sentada no peitoril da varanda, cumprimentando alguém. E, ao inclinar-se, viu que tinha uma tatuagem na cintura: um dragão.

Seb soltou um suspiro. Aquela rapariga era uma tentação. E o seu estilo, tão despreocupado, seria uma tentação para Torie.

Assim que visse a tatuagem, ficaria como louca com vontade de fazer outra…

Como se tivesse pressentido a sua presença, Kree voltou-se, sorrindo. Um sorriso que lhe fazia pensar com uma parte do seu corpo que não a cabeça.

– Já viste tudo? Não quero apressar-te, mas James está quase a chegar.

– James?

– O rapaz que quer arrendar a casa.

– Vais arrendar a casa a esse James?

– Assim espero. O dinheiro dava-me jeito… – nesse momento tocou a campainha. – Ah, aí está ele. Já vou! Escuta, não te importas de ir andando? É que quero mostrar-lhe a casa.

– Não é preciso.

– Como?

– Quero arrendá-la e não tenho nenhuma intenção em partilhá-la com o teu amigo – respondeu Seb.