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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Bronwyn Turner

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Perdidos na noite, n.º 597 - junho 2019

Título original: A Tempting Engagement

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-050-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

A Emily estava a trabalhar num bar?

Mitch Goodwin ficou tenso ao ouvir as notícias que a sua irmã lhe dava.

A Chantal devia estar a brincar. Mitch acabava de chegar à sua cidade natal na Austrália e, pelos vistos, ela decidira presenteá-lo, à laia de boas-vindas, com toda essa informação.

Se o que pretendia era transmitir-lhe algo emocionante, tinha conseguido. Nada acelerava mais o seu coração do que a ex-ama do seu filho.

Tentando controlar a sua agitação, Mitch meteu um prato na máquina de lavar loiça.

– Porque não me contaste no outro dia, quando me ligaste para me informar do seu regresso a Plenty?

– Perguntaste-me como estava, não em que trabalhava. Uma ligeira mudança de ocupação não implica que uma pessoa esteja bem ou mal.

Mitch acabou com o fingimento e deixou entrever o seu estado.

– Estar atrás do balcão do bar do hotel Lion não é uma mudança qualquer.

– Esse sítio já não é tão mau desde que foi comprado por Bob Foley. De facto…

– Era o mesmo se fosse o Ritz! A Emily é uma ama, uma das melhores que há.

A resposta impetuosa desconcertou Chantal. Olhou para o seu irmão durante uns segundos com a chávena de café já vazia na mão.

– Pensei que a informação te interessaria, mas não imaginei que te provocasse reacções tão adversas. Como te mudaste para cá para escrever, imaginei que precisarias de uma ama.

Assim era, de facto. E saber que a ama mais sexy do mundo estava a servir copos naquele bar horrendo, acrescentava alguma urgência à missão de ir à sua procura.

– Posso deixar o Joshua contigo e com Quade durante uma hora? – perguntou ele.

– Claro que sim – respondeu Chantal, segundos antes de ele se dirigir para a porta. – Mas, conduziste meio dia e estás exausto. Por que não vais descansar e amanhã, mais tranquilo e asseado, vais vê-la? Suponho que queres realmente convencê-la a voltar a trabalhar para ti.

Mitch não estava disposto a esperar. Tanto ele como Joshua precisavam dela.

A sua determinação deve ter-se reflectido no seu rosto, porque Chantal suspirou e agitou a cabeça de um lado para o outro.

– Trata-a com cuidado, Mitch. Sei que tu passaste por um mau período, mas ela também.

 

 

Mitch sabia muito bem o que tinha acontecido na vida de Emily durante aquele «período duro». Enquanto conduzia para o centro de Plenty ia recordando e reflectindo sobre a vida daquela rapariga.

Primeiro, a sua ex-mulher despedira-a sem razão aparente. Depois, após a morte do seu avô, vira-se envolvida numa terrível luta por cauda da partilha dos bens. A tremenda injustiça que se cometera com ela ainda alterava o pulso de Mitch, ainda que não tanto como o seu próprio erro de critério.

Erro de critério? Essa definição não descrevia nem por sombras o modo em que ele próprio abusara do seu poder depois de a readmitir no seu cargo, aproveitando-se da sua calidez e compaixão.

O dia da morte de Annabelle… Mitch apertou o volante. Aqueles foram momentos muito duros e ainda sentia um ardor doloroso no peito ao recordá-los. Emily tinha ido buscá-lo ao bar mais próximo, onde ele se escondera para afogar os seus sentimentos de raiva e impotência.

Lembrava-se de como, ao chegar a casa, a beijara, ansioso por se perder em algo mais doce e menos doloroso do que a garrafa de whisky. Tinha-a beijado e de alguma maneira tinham chegado até à cama. Depois disso, um grande buraco negro nublava a sua memória.

Viu com vivacidade a imagem de Emily levemente coberta por um lençol branco e com uma insinuante nudez que emergia timidamente.

Esquecera o que sucedeu naquela noite, mas não o que aconteceu na manhã seguinte. As suas insistentes perguntas obtiveram uma única resposta: nada acontecera entre eles.

Mas, enquanto Joshua e ele se dirigiam ao funeral de Annabelle, Emily fizera as malas e fora-se embora.

Com a mesma sensação de frustração que sentira então, estacionou o carro diante da porta traseira do hotel Lion e desligou o motor.

Não podia esperar até que o local fechasse para falar com ela. Tinha de a ver nesse mesmo instante.

Esperava que não estivesse demasiado ocupada. A chuva insistente provavelmente teria dissuadido a maior parte dos clientes que provavelmente teriam optado por ficar em casa.

Saiu do carro, fechou a porta e encaminhou-se para a entrada principal, precisamente no instante em que uma pequena figura feminina saía por trás.

Era Emily.

O pulso acelerou-se como resposta a um monte de emoções avassaladoras. Preferia não parar para identificar algumas delas, assim que se centrou na raiva.

Caminhava só pelas ruas escuras, tão vulnerável e indefesa.

De repente, a porta principal do bar abriu-se. Dois homens encaminharam-se para Mitch, dois homens que reconheceu como ex-colegas de escola.

Não encontrou nenhum lugar em que se esconder para os evitar.

– Mitch Goodwin? Santo Deus! Ouvi dizer que tinhas regressado a Plenty. Mudaste-te para a casa de Heaslip, não foi?

– Sim, é verdade – respondeu Mitch, à medida que via Emily desaparecer à distância. Desculpem, mas agora…

Rocky O’Shea frustrou a sua tentativa de fuga.

– Que sorte a tua irmã ter-se casado e teres ficado no seu lugar – disse o homem. – Mas tu sempre foste um sortudo em tudo.

Dean deu-lhe uma cotovelada jovial na barriga e Rocky acrescentou umas palmadas, ambos gestos acompanhados de gargalhadas.

– Desculpem, mas tenho de ir. Tenho algo urgente para fazer. Vemo-nos noutra altura.

Dean pigarreou.

– Lamento… lamento pela tua mulher.

– Ex-mulher.

Os dois homens ficaram sem resposta.

Antes de terem tempo de retomar aquela incómoda conversa, Mitch meteu-se no carro. Ligou a ignição e acelerou, deixando que a sua raiva se diluísse pouco a pouco.

Em qualquer caso, já não teriam muito que dizer. Que comentário se podia fazer a um homem cuja mulher o abandonara daquela maneira? Annabelle tinha partido, perseguindo o êxito na sua já resplandecente carreira, sem pensar um minuto no seu filho de três anos. Por fim, o mesmo glamour que a iluminava, fora, em parte, a causa da sua morte. O jet privado em que viajava tinha caído pela acção de uma terrível tempestade nas Caraíbas.

Seis meses após o seu funeral, ainda se sentia confuso a respeito do sucedido.

 

 

Ao sentir as primeiras gotas de chuva, Emily fechou a gabardina e continuou a caminhar. Só faltava um quarteirão para a sua casa.

Não quis correr. Sabia que esse seria um gesto de fraqueza, uma demonstração do temor que sentia.

A meio daquela noite húmida, o som de um motor não fez mais do que alimentar o seu medo.

Imaginou o carro a parar a seu lado, um homem a sair e a ameaçá-la com uma faca, obrigando-a a entrar…

O som que o veículo fez ao parar ao seu lado trouxe-a de volta à realidade. Era o momento de correr de verdade, mas as suas estúpidas pernas não reagiam.

– Emily.

Ao ouvir aquela voz reconhecível a pronunciar o seu nome, o seu medo converteu-se noutro tipo de terror: o pânico a Mitch Goodwin. Tinha ouvido dizer que se ia mudar para Plenty e tinha imaginado que não deixaria os velhos fantasmas em paz. Mitch era assim, o eterno jornalista, sempre à caça, sempre necessitado de um final para todas as histórias.

Tinha passado seis meses a elaborar a sua versão da história, preparando-se para aquele momento. Porque sempre soubera que esse dia chegaria. Mas o seu cérebro acabava de ficar em branco.

Virou-se para a viatura, grande, escura. Parecia ter sido feita exactamente para ele.

– Entra – ditou ele. – Está a começar a chover.

– O que queres, Mitch?

– Só quero que não te molhes.

– Prefiro ir a pé.

Sem dizer mais, retomou o seu caminho. Nem tão sequer se alterou ao ouvir o motor a trabalhar, ao ver que o carro se aproximava e se detinha uns metros mais à frente e ao ver que ele saía.

Abriu-lhe a porta do co-piloto sem dizer mais nada.

Ela deteve-se ao chegar até ele e aceitou tacitamente o seu convite.

– O que tens? Porque estás tão arisca? – perguntou ele, assim que se puseram em movimento.

Percorreram o resto do caminho em silêncio, até que chegou a sua casa e se deteve diante do alpendre.

– Assustaste-me, é tudo.

– Desculpa – desculpou-se ele secamente. – Queria ter-me encontrado contigo à saída do bar.

Ela olhou-o com desconfiança.

– Para quê?

A frieza da pergunta empurrou-o para uma resposta directa.

– Porque fugiste de mim, Emily? Porque te foste embora sem dizer nada?

– Deixei um bilhete…

– No qual não dizias absolutamente nada, apenas «Lamento». Que querias dizer com isso? «Lamento, Joshua, por abandonar-te sem mais e partir-te o coração».

Ela retrocedeu um passo, magoada e desconcertada pela acusação.

Mitch arrependeu-se das suas palavras. Não as merecia.

Passou a mão pelo cabelo com nervosismo.

– Desculpa, Emily – fechou os olhos por um momento. – Não tenho direito a falar-te assim.

Ela não respondeu. Saiu do carro e ele seguiu-a.

O alpendre estava repleto de caixas de embalar.

– Vais-te mudar?

– Sim – sussurrou ela.

Mitch franziu a testa.

– Por causa do testamento do teu avô?

– Do meu avô por afinidade.

– É igual. Toda a gente sabe que fizeste mais pelo velho Owen nos seus últimos anos do que todos os seus familiares juntos. Não deverias ter-te dado por vencida.

– Não me dei por vencida. Simplesmente, perdi – respondeu ela em tom de desafio. O seu olhar era feroz, atemorizante.

Ele respirou fundo antes de continuar.

– Quando te mudas?

– Este fim de semana.

– Para onde?

– Tenho um quarto no Lion – disse ela, claramente à defesa, respondendo à censura que lia nos olhos dele. – É um lugar aceitável e limpo.

– É frio e não vejo nada de conveniente em viver em cima de um bar.

– É só algo temporário, até encontrar algo melhor.

– Porque não vens trabalhar para mim? Evitarias tudo isso.

Ela negou com a cabeça e os seus olhos encheram-se de uma emoção inclassificável.

– Já tenho trabalho.

– O Joshua necessita de uma ama – disse ele suavemente, com um tom convincente. – Eu trabalho em casa, escrevo, pelo que o horário é flexível. Dentro de pouco começaremos a rodagem de Os meus heróis quotidianos e terei de passar em Sydney a maior parte da semana. Pagar-te-ei as horas extraordinárias, além do dobro do salário que tinhas antes.

Ela emitiu uma gargalhada amarga.

– Com um ordenado assim podes ter a ama que quiseres.

– Esta proposta só ta faço a ti.

O seu sorriso desvaneceu-se ao ver a frialdade no semblante de Mitch.

– Porquê?

– Porque o Joshua precisa de ti.

Aquelas cinco palavras quase derrubaram os obstáculos que já se tinham começado a debilitar com o seu comentário anterior: tinha partido o coração ao pequeno com a sua partida.

Emily levou a mão à garganta.

– Desde que te foste que se comporta de um modo estranho. Está muito rebelde.

Aquele homem sabia exactamente onde cravar o seu ferrão!

Emily olhou para ele. A sua expressão continuava a ser dura e ilegível.

– Não faz falta que vivas lá em casa, se é isso que te preocupa. Procurarei uma casa e pagá-la-ei.

– Além do ordenado e das horas extra? Isso é ridículo! Não tem sentido que gastes tanto dinheiro – disse ela, claramente aborrecida.

– O dinheiro não é importante. Pagarei o que fizer falta, Emily.

Não havia dinheiro que a pudesse convencer.

– A resposta é «não».

Ele não ligou e continuou a sugerir possibilidades.

– Também podes ficar na nova casa de Chantal e Quade. Não fica muito longe e tem…

– Não, Mitch – disse ela com raiva e firmeza.

Ele ficou tenso. A doce Emily desconcertara-o com aquele arrebato de ira e orgulho. Uma escura frustração ensombrou o seu olhar.

– Bem, encontraremos outro sítio.

Durante uns segundos, Mitch mostrou-se vulnerável e derrotado, um gesto dolorosamente familiar que desconcertou Emily.

– Que te posso oferecer para que mudes de ideias? – insistiu ele.

Ela negou com a cabeça.

– Lamento, Mitch.

Ele olhou-a fixamente.

– Não me darei por vencido, Emily. Pensa sobre a proposta e diz-me o que queres em troca dos teus serviços.

Ela viu-o afastar-se com um profundo pesar no peito. A resposta vibrava-lhe, perturbadora, no coração, apertava sem piedade o seu estômago, provocando-lhe uma dor amarga.

O único que queria era o amor de Mitch Goodwin, e nenhuma outra coisa possuía valor suficiente para convencê-la.