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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Harlequin Books S.A.

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um segredo perigoso, n.º 570 - abril 2019

Título original: Royally Pregnant

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-029-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

 

– Tem que parecer um acidente.

Emily Bridgewater não se moveu ao ouvir aquelas palavras, manteve-se recta, com a cabeça levantada e o olhar perdido na água do mar, onde umas enormes nuvens negras, que pareciam provenientes do inferno, se reflectiam. Uma multidão de barcos, tanto de pesca como de recreio, apressavam-se a regressar ao porto; só um louco se atreveria a permanecer em alto mar desobedecendo aos avisos da Mãe Natureza.

Emily sobressaltou-se, não pela brisa gelada que acabava de lhe golpear o rosto, mas sim pelo desespero. Que vantagem lhe poderia trazer o engano? Tinha-se repetido centenas de vezes aquela mesma pergunta durante os últimos três dias e tinha obtido sempre a mesma resposta: nenhuma.

Mas não tinha logrado encontrar outra solução.

– Ouviste, Emily? – resmungou aquele homem. – Tens de assegurar-te que esse tipo pense que foi um acidente.

Por fim deu a volta para enfrentar o rosto do seu interlocutor. Pouco mais sabia dele além de que se chamava Sutton, embora duvidasse muito que esse fosse o seu nome verdadeiro. Aparentava ter uns quarenta anos, pelo menos mais vinte do que ela. Era alto e estava vestido de preto dos pés à cabeça, tinha o cabelo rapado e o seu rosto tinha uma expressão tão dura como a costa da Ilha de Penwyck. No seu bíceps direito via-se uma tatuagem de uma pequena adaga negra.

Emily não fazia ideia de quem era a pessoa da qual ele recebia ordens, mas tinha a certeza que ele não estava à frente daquilo. Era óbvio que não era ele que tomava as decisões nem podia negociar; limitava-se a cumprir ordens sem fazer perguntas.

E era isso mesmo que esperava dela.

– Farei o que entender.

Ele sorriu ante tal acto de rebeldia e simultaneamente diminuiu numa passada a distância que os separava. Emily teve vontade de fugir quando notou que uma mão lhe agarrava o braço enquanto a outra era depositada no seu queixo. Teve de morder os lábios e fazer um esforço para não obedecer ao seu impulso de fuga.

– Não farás nada disso – aqueles olhos cinzentos passearam-se pela cara de Emily e depois pelo seu decote. – Sabes perfeitamente o que acontecerá se não fizeres o que te mandamos, não é assim, querida Emily?

O coração encolheu-se-lhe no peito.

– Sim.

Sutton retirou uma pequena fotografia do bolso da camisa e mostrou-lha.

– Dá-lhe uma última vista de olhos, para que te certifiques que não há nenhum erro.

Voltou a olhar para a fotografia apesar de já a ter visto de manhã: cabelo curto, castanho escuro, olhos azuis e uma mistura de ar majestoso e áspero nas suas feições. Olhava a câmara sem sorrir; com uma expressão que denotava inteligência e um ligeiro toque de irritação.

«Meu Deus, como poderei fazer isto?»

– Não se preocupe, não haverá nenhum erro – assegurou-lhe, afastando-se.

Então, o telemóvel que Sutton levava pendurado no cinto tocou e ele deu meia volta para o atender, escutou o que lhe diziam durante uns breves segundos e desligou imediatamente.

– Chegou a hora.

Ela olhou para a estrada que se estendia ao lado das árvores debaixo das que se encontravam, sabia que o carro não tardaria mais do que uns minutos em aparecer por aquela curva. O pulso acelerou-se-lhe.

«Não posso fazer isto». Sentia que o pânico começava a apoderar-se dela. «Não posso». Ao notar que titubeava, Sutton voltou a agarrar-lhe o braço e puxou-a para a bicicleta de aluguer que se encontrava apoiada numa árvore.

– O que acontecerá se algo correr mal? – perguntou ela quase sem fôlego.

– É melhor que assim não seja – respondeu ele cortante. – Agora sobe para a bicicleta.

– Mas se não acontecer nada, se…

Viu o seu punho aproximar-se da sua cara tão rápido que não teve tempo de reagir; os nós dos dedos atingiram-lhe o pómulo com uma força brutal. Começou a ver estrelas e por um momento chegou a temer vomitar a pouca comida que ingerira ao longo do dia. Teria caído de bruços se ele não a tivesse segurado.

– Acabaram-se os mas, Emily. Sobe para a bicicleta!

Limpou as lágrimas de dor que lhe embaciavam os olhos e subiu para a bicicleta, tentando ignorar o zumbido nos ouvidos que o murro lhe tinha provocado.

Ao ouvir o ruído de um carro que se aproximava, pôs os pés nos pedais e apertou bem as mãos no guiador.

Esperou sustendo a respiração.

 

 

– Esta vai ser muito má, Alteza. Claro que o meu pai já o dizia: noite de cervejas é noite de mulheres – do banco traseiro da limusina, Dylan Penwyck deu uma olhadela a Liam McNeil, que o espreitava através do espelho retrovisor. Liam tinha nascido na Irlanda, mas estava na Ilha de Penwyck desde os oito anos e conduzia a família de Dylan há mais de vinte. Aos seus quarenta e poucos anos, Liam era cheio da habilidade e humor tipicamente irlandeses, embora houvesse nele também uma boa dose de desfaçatez.

– Tenho a certeza que não o diria à frente da tua mãe.

Liam desatou a rir com gargalhadas alimentadas por anos de tabaco e whisky.

– Só se quisesse receber um bom golpe de frigideira nas costas.

Dylan tentou imaginar a sua própria mãe batendo no seu pai com uma frigideira, mas a ideia da rainha Marissa perseguindo o rei Morgan pelo palácio era demasiado descabelada.

Apesar de ter sido arranjado por outros, o casamento dos seus pais tinha resultado bastante feliz. Jamais ouvira a sua mãe levantar a voz ao seu pai… nem a ele nem a ninguém; seguramente porque a rainha era capaz de mover montanhas com um só olhar. Embora ninguém se atrevesse a dizê-lo claramente, todos sabiam que quem mandava no casamento e no palácio era ela.

Mas agora o pai de Dylan estava doente; o rei Morgan acabava de sair do coma em que tinha caído há mais de cinco meses, mais ainda, tinha pela frente muitos meses, talvez até anos, de reabilitação e terapia. Desde que Broderick, o tio de Dylan, tinha assumido o poder, instalara-se o caos mais absoluto no reino. Apesar de Broderick já ter sido destituído da sua responsabilidade no trono, ainda havia muito a fazer para restaurar a ordem.

Dylan odiava-se por não ter estado ali nos últimos meses, por ter-se escondido tanto que nem a sua família o pôde localizar.

No entanto, tinha regressado e, desta vez, era para ficar.

Nessa manhã, tinha passado à sua irmã Meredith um convite para uma festa em honra da directora da escola pública de Penwyck e, em vez disso, ele tinha passado uma agradável manhã com o Barão e Lady Chaston. Blair, a filha de ambos, tinha feito o possível para que ele ficasse para o almoço; até o tinha olhado fixamente com aqueles enormes olhos azuis quando ele lhe disse que tinha uma reunião importante no palácio. Aquilo era uma evidente mentira, claro, mas Dylan sabia que Blair estava empenhada em casar com alguém da realeza e, desde que o seu irmão gémeo, Owen, casara com Jordan Ashbury, Blair tinha os olhos postos nele.

Era certo que era uma bela mulher, pelo menos era o que dizia toda a gente, além de que reunia todas as qualidades de esposa de um príncipe. O problema era que a simples ideia de acordar todos os dias ao lado daquela jovem superficial lhe causava calafrios.

Passara os últimos anos a negar os deveres e responsabilidades com que nascera. Os seus pais teriam um ataque de nervos se soubessem que o seu filho era membro das forças especiais de uma organização denominada Graystoke, dedicada ao resgate de altos dignatários e executivos raptados na Europa Central. O trabalho era perigoso e muito emocionante, em cada missão corria o risco de não voltar a casa com vida ou, ainda pior, acabar por ser também ele sequestrado.

Esta era a razão porque Dylan tinha falsificado todos os seus documentos, deixado crescer a barba e ocultado a todos a sua verdadeira identidade. Se qualquer um dos homens com os quais trabalhara suspeitasse que ele era, na realidade, o príncipe Dylan Penwyck, jamais lhe teriam confiado missão alguma.

Com estes pensamentos em mente, o olhar de Dylan perdia-se na paisagem que se estendia do lado de fora da janela do carro, a caminho do palácio. O céu estava coberto por enormes nuvens negras que se juntavam, no horizonte, com o oceano. Desde que regressara a Penwyck, há tão só umas poucas semanas, o inverno tinha-se ido instalando pouco a pouco. Qualquer um que tivesse passado algum tempo na ilha, sabia o quão imprevisível era a sua climatologia, essa era uma das características do lugar em todas as estações.

Era muito curioso, tinha sido preciso passar dois anos afastado dali para perceber que Penwyck era o lugar a que pertencia. Sabia que jamais chegaria a ser rei, mas serviria o seu país e a sua família a qualquer preço.

– Os rapazes e eu temos jogo esta noite – disse-lhe Liam. – Anima-se?

– Não me importaria jogar um par de mãos – respondeu ele encolhendo os ombros. – Assim talvez recupere parte do que me ganhaste na outra noite.

– Com todo o respeito, Alteza – começou a dizer Liam entre risos. – A minha mãe jogaria melhor. Não pode culpar ninguém das suas derrotas a não ser a si mesmo.

Liam tinha razão e Dylan sabia-o. Tinha jogado de forma desastrosa, certamente porque a sua cabeça estava em qualquer outro sítio, excepto naquele jogo. Estava preocupado com a saúde do seu pai, o abuso de poder do seu tio, o sequestro do seu irmão Owen, a gravidez da sua irmã e com a notícia de que Owen tinha um filho cuja existência ninguém conhecia até às últimas semanas.

E isso era só o começo. Em resumo, o palácio e o país tinham estado imersos num verdadeiro turbilhão de acontecimentos.

– Se voltas a chamar-me «Alteza» – começou a avisá-lo Dylan, apoiando-se no respaldo do assento do condutor, – não te deixarei ganhar nem mais um jogo.

– Deixar-me ganhar? A mim? – respondeu o motorista com uma gargalhada ao mesmo tempo que fazia uma curva muito apertada. – Jamais poderia…

– Cuidado!

Mais tarde, Dylan conseguiu ter uma ideia do sucedido, mas naquele momento não teve tempo de pensar nem de responder. De repente, a mulher da bicicleta estava diante deles, no meio da estrada. Liam travou a fundo, o que provocou a derrapagem dos pneus sobre o asfalto, apesar de não irem a muita velocidade. Pode ver a sua cara de susto no momento em que a limusina batia na sua bicicleta, projectando-a para o outro lado da estrada.

Dylan saiu do carro antes mesmo de este parar completamente. Ali estava ela, estendida no chão, com o comprido cabelo escuro a cobrir-lhe o rosto. Ajoelhou-se junto a ela, rezando com todas as suas forças para que estivesse bem. Pôs-lhe a mão no pescoço com extremo cuidado e, aliviado, comprovou que tinha o pulso normal.

– Por Deus! – exclamou Liam ao sair do carro. – Diga-me que não a matei, por favor.

– Não, não a mataste – assegurou Dylan em tom tranquilizador apesar de ter o coração quase a sair-lhe pela boca. A mulher tinha uns arranhões no braço e na mão direita, bem como uma ferida no pómulo esquerdo. Tanto a blusa como a saia estavam manchadas e rasgadas.

Tornou a olhar para a sua cara. Era bonita, foi a sua primeira impressão. Quando abriu os olhos com um gemido de dor, rectificou, era belíssima.

Tinha uns olhos verdes lindíssimos com ligeiros toques acinzentados, a pele pálida e lisa como porcelana. Dylan tinha a sensação que uma mão o tinha agarrado pelo pescoço, mão essa que o apertou ainda mais quando se fixou naquela boca de lábios carnosos e rosados. Uma boca que estava mesmo a pedir para ser beijada. Foi então que voltou a olhá-la nos olhos e viu espelhado neles dor e confusão.

– O que…? – começou a dizer levando a mão à cabeça, – o que aconteceu?

– O nosso carro bateu-lhe quando estava a atravessar a estrada em bicicleta – Dylan comprovou aterrorizado que tinha sangue na testa. – Dói-lhe alguma coisa?

– A cabeça – murmurou ela.

Fechou os olhos apenas por segundos, o que levou Dylan a pensar que tinha desmaiado, mas voltou a abri-los em seguida e ele respirou de alívio.

– Ponha isto – disse-lhe Dylan, estendendo-lhe um lenço que acabou por lhe colocar na testa. – Vou chamar uma ambulância.

– Não, não é preciso – assegurou ela, tentando levantar-se. – Só preciso de um minuto.

– Tem de permanecer quieta. Vamos comprovar que não lhe falta nada… Caramba, vai ser difícil andar de bicicleta só com uma perna – brincou ele, tentando fazer com que se sentisse melhor. – Acho que uma perna de madeira dá para o gasto – acrescentou tocando-lhe os tornozelos. – Sente isto?

– Sim – respondeu mexendo os pés. – Tem as mãos quentes.

– Vou comprovar que não tem nada partido – avisou-a subindo-lhe a saia de ganga até aos joelhos. Tinha pernas de bailarina, ou de atleta… O caso é que eram estilizadas e suaves como a seda. – Depois poderá esbofetear-me por ser tão atrevido.

Ao levantar-lhe a mão notou que usava um pequeno anel com um rubi e um diamante. Então começou a soprar um vento frio de leste que trouxe as primeiras gotas de chuva ao mesmo tempo que se ouvia um forte trovão.

– Está a ponto de cair uma carga de água – anunciou Liam.

– Não podemos ficar aqui – estabeleceu Dylan. – Vou levá-la para o carro.

O relâmpago seguinte ouviu-se muito mais próximo e apenas uns segundos depois começou a chover a cântaros tal como previra Liam. Dylan pegou na mulher ao colo com a maior suavidade e, quando a teve colada a si, notou como tremia, pelo que a apertou contra si e a levou para o carro apressadamente.

O interior da limusina era cálido e silencioso. Colocou-a no banco de trás e sentou-se a seu lado.

– Trago a sua bicicleta? – perguntou Liam.

– Depois, voltaremos quando tenha amainado – disse-lhe Dylan. No pouco tempo que levaram a meterse no carro, a mulher tinha ficado com o cabelo ensopado, pelo que Dylan tirou uma manta de um compartimento lateral e tapou-a com ela. – Avisa o doutor Waltham – pediu-lhe Liam. – Diz-lhe que nos espere, que estamos a caminho.

Liam fez a chamada enquanto conduzia; Dylan fechou o vidro que separava o banco da frente da parte posterior para que a ferida não ouvisse nada. Podia ver a dor nos seus olhos mas nada se podia fazer até chegar ao palácio.

– Não demoraremos a chegar – disse para tranquilizá-la e a si próprio. – Está confortável?

– Desculpe – sussurrou ela num fio de voz quase inaudível. – Lamento muito.

Dylan ficou confuso com a intensidade do seu olhar e o desespero que denotava o seu tom de voz.

– Não tem de pedir desculpa – garantiu, aconchegando-a bem. – Fomos nós que a atropelámos.

Ela desviou o olhar. A ferida do pómulo estava cada vez mais escura e a da testa continuava a sangrar.

– Como se chama? Quer que chamemos alguém?

Tornou a olhar para ele muito devagar. Dylan viu medo nos seus olhos, medo e confusão.

– Não… não sei.

– Não sabe se quer que chamemos alguém?

– Não – disse, fechando os olhos. – Não sei como me chamo.

Capítulo Dois

 

 

 

 

 

 

O que deveria ter sido um percurso de cinco minutos até ao palácio, converteu-se nuns intermináveis quinze minutos. Dylan amaldiçoou cada imperfeição do asfalto, cada rabanada de vento que fazia com que Liam tivesse de guinar o volante. Sabia que era impossível conduzir mais rápido com aquela chuva torrencial, mas isso não evitava que se sentisse enormemente frustrado.

Ao menos dentro do carro estavam a salvo do frio, pensou Dylan,enquanto estudava a mulher que tinha ao lado. Pressionou ligeiramente o lenço contra a ferida que tinha na testa e depois franziu o sobrolho ao ver o pedaço de pano tingido de sangue. Apesar da enorme quantidade de sangue que tinha visto nos dois últimos anos, incluindo o seu, por algum motivo isto era muito diferente; aquela mulher parecia tão frágil, tão delicada.

E ele era o responsável do ocorrido.

Tinha examinado a ferida atentamente e comprovara que não era profunda. Na verdade ela tinha tentado levantar-se um par de vezes, afirmando que se sentia bem, mas ele não o tinha permitido. Claro que não estava bem, tinha acabado de ser atropelada por um carro, o seu carro.

De onde tinha saído aquela mulher que aparecera de repente no meio da estrada? E sobretudo, quem era ela?

Preocupava-o o facto de ela não ter conseguido responder a esta pergunta, mas era compreensível que se sentisse confusa e desorientada depois do acidente.

Havia algo nela que lhe resultava estranhamente familiar, se bem que era incapaz de precisar o quê. Era como uma melodia que não ouvia há anos, conseguia ouvi-la ao longe no seu cérebro, mas negava-se a deixar-se entender com clareza.

Tentou desprender-se daquela sensação, com certeza nunca a tinha visto antes. Talvez fosse uma turista. A costa de Penwyck era impressionante e visitantes de todo o mundo vinham fotografar as suas escarpass e bosques… Embora não transportasse nenhuma máquina fotográfica, nem sequer uma mala. Nesse instante, a luz de um relâmpago iluminou o interior do carro e fez com que a mulher se sobressaltasse, assustada.

– Calma, está tudo bem – assegurou-lhe Dylan em tom apaziguador embora, na realidade, não possuísse tantas certezas; via-a demasiado pálida e com a respiração demasiado agitada. – Chegaremos ao palácio em questão de uns minutos.

– Ao palácio? – abriu os olhos e olhou-o confusa.

– Ao palácio de Penwyck, dirigiamo-nos para lá quando você apareceu na estrada. Lembra-se para onde ia?

– Pois… – hesitou uns segundos antes de responder. – Não.

Começou a tremer novamente, Dylan agarrou-lhe as mãos para lhe transmitir todo o calor possível. Tinha os dedos magros e as unhas cortadas e cuidadas. Não usava outro adereço, além do anel que tinha visto antes, nem rasto de aliança de casamento.

Outro relâmpago fez-se sentir com mais força, o que lhe provocou outro espasmo.

– Calma – disse-lhe, apertando-lhe as mãos.

– Tem as mãos… tão quentinhas – disse ela, olhando-o.

– É porque as suas estão muito frias.

Um sorriso tímido assomou-se ao seu rosto, mas desapareceu em seguida.