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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Bronwyn Turner

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A esposa do inimigo, n.º 2132 - novembro 2016

Título original: Tycoon’s One-Night Revenge

Publicada originalmente por Silhouette® Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9210-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Portanto tinha ido. Antes do que Donovan Keane tinha previsto, tendo em conta o clima e a deslocação necessária para chegar ao remoto complexo de férias. Van comprovou com satisfação que estava sozinha.

Óptimo.

Meio sorriso torceu os seus lábios enquanto contemplava como rejeitava o enorme guarda-chuva do porteiro e trotava escada acima, encaminhando-se para a recepção. Sob o tecto do pórtico, deteve-se para cumprimentar o porteiro e algo no movimento do seu cabelo loiro acobreado e da sua mão lhe provocou uma estranha sensação de déjà vu. Durante uma fracção de segundo, vacilou entre passado e presente, entre sonho e realidade.

Depois entrou no edifício, como um vendaval de longas pernas e impermeável de marca, deixando Van sozinho e sem sorriso.

Com um punho enluvado, bateu na palma da sua outra mão e rebuscou na memória, sem sucesso.

– Que surpresa – disse a um mudo público de aparelhos de ginástica.

Tinha identificado Susannah Horton mal a viu chegar através da janela molhada pela chuva. Mas isso devia-se às fotografias que tinha visto nas últimas semanas de intensa investigação e não ao fim-de-semana que tinha passado na sua companhia; os fotógrafos de sociedade australianos adoravam a rica herdeira. Van afastou-se da janela, sacudiu-se para libertar a tensão dos músculos e abraçou o saco de areia em que tinha estado a bater minutos antes.

Tinha voado de São Francisco na manhã anterior, mas as vinte e quatro horas que levava em The Palisades, em Stranger’s Bay, o complexo de férias da Tasmânia onde supostamente tinham passado o tal fim-de-semana não tinham preenchido o buraco negro da sua memória. Caramba, havia estado a ponto de comprar o lugar e, ainda assim, nada lhe resultava familiar. Nem o voo para a Austrália, nem o transfer de helicóptero até ao isolado complexo. Nem sequer a primeira vista impressionante dos bungalows salpicados pelo mais alto do rochoso promontório que dava para o oceano sul.

Nada. Paf. Nada. Paf. Nada.

Van perfurou o saco de areia com uma letal sucessão de murros que não conseguiram atenuar a sua frustração. O persistente ardor interno não se devia só ao fim-de-semana esquecido, ou a ter perdido a opção de compra do complexo, superado por um grupo hoteleiro australiano. Devia-se ao modo como a tinha perdido.

Tinha recebido esse golpe baixo enquanto se encontrava inconsciente na UCI, incapaz de se defender e muito menos de lutar. Paf. Uma contra proposta imparável, perfeitamente apresentada e calculada. Paf. E tudo por culpa de uma ruiva traiçoeira chamada Susannah Horton. Pafpafpaf.

Apesar da ameaça velada que lhe tinha deixado no correio de voz na noite anterior, não tinha esperado que aparecesse tão depressa. Na melhor das hipóteses, esperara uma chamada. Na pior, outro «não te atrevas a voltar a ligar» da sua mãe. O facto de Susannah ter ido até ali sem aviso prévio e sem companhia, sugeria que ele não tinha interpretado mal as pistas que tinha.

Ele tinha posto o dedo na ferida, e não tinha perdido um minuto em ir buscá-lo ao exclusivo ginásio do complexo.

Não a ouviu entrar, mas captou o reflexo de um movimento na enorme vidraça. Um calafrio percorreu-lhe a coluna, tão forte que o murro seguinte mal roçou um lateral do saco de areia. Recuperou a compostura e lançou uma última combinação de golpes rápidos, fortes e certeiros, que o deixaram sem fôlego.

Tirou as luvas de boxe e vestiu uma t-shirt. Agarrou a toalha e a garrafa de água e, esquivando o saco de areia, que ainda oscilava no ar, foi para a luxuosa zona da recepção. Enquanto andava, bebia água e bebia a imagem da mulher.

De perto, Susannah Horton impressionava ainda mais do que atrás de um vidro molhado. Não era deslumbrante; a sua beleza tinha mais a ver com a classe. Alta, esbelta e feminina. Lábios generosos equilibrados por um nariz longo e recto. Cabelo vermelho dourado e pele clara, das que avermelhavam ao sol. Olhos verdes rasgados para cima e nublados pela inquietação.

Até então tinha albergado dúvidas sobre como tinham passado os dias, e as noites, nesse fim-de-semana de Julho. Não se lembrava nem de um mísero detalhe. Só tinha a palavra de Miriam Horton, após uma endiabrada conversa telefónica, e o seu instinto. E acreditava no seu instinto. Quando os olhos de ambos se encontraram, quando detectou o calor reprimido nas profundidades esverdeadas dos dela, o seu corpo reagiu com um poderoso clarão de reconhecimento. E quando se deteve diante dela, o seu instinto zumbiu como louco.

Sim, tinha ido para a cama com ele, sem dúvida.

E depois tinha-lhe dado um chuto.

 

 

Susannah tinha achado que estava pronta para esse momento. Desde que tinha ouvido a mensagem de voz na noite anterior, tinha tido tempo para se preparar. Mais de uma vez se tinha amaldiçoado devido à sua reacção impulsiva e temerária. Mais de uma vez tinha colocado a hipótese de dar meia volta e voltar para casa.

Mas de que teria servido? Não imaginara o tom agressivo da mensagem, nem a ameaça inerente às suas palavras. Não tinha sido tão analítica como costumava ser ao decidir voar até ali; a impulsividade parecia dominar as suas relações com Donovan Keane, mas tinha tomado a decisão correcta.

Depois de cinco horas de viagem e reflexão, a ansiedade inicial de Susannah tinha adquirido um toque de indignação. Após ignorar as suas chamadas durante semanas, aparecia, dois meses depois, com ameaças que se aproximavam perigosamente da chantagem. Ela tinha muito de que se arrepender a respeito daquele fim-de-semana e das suas consequências, mas não era a parte culpada. Quanto mais pensava na mensagem de voz, mais questões se colocava.

Era isso que tinha na cabeça quando entrou no ginásio de The Palisades e deparou com Donovan, despido da cintura para cima, amolgando o infeliz saco de areia. Toda a sua indignação se evaporou ao ver o volume dos seus músculos. Sentiu-se vazia, mal preparada e muito susceptível às sensações que vê-lo de novo lhe provocavam.

Quando ele deu a volta e os olhos de ambos se encontraram, os seus sentidos viram-se mais abalados do que o saco de areia.

Foi precisamente como na primeira vez que se viram e que ela se transformou no único foco desse fascinante olhar cinzento prateado. Experimentou a mesma excitação, a mesma reviravolta no estômago, a mesma explosão de calor na pele.

Enfeitiçada. Perdida. Lenta a reagir.

Tão lenta que ele já estava diante dela antes que compreendesse o que falhava na cena. Parecia-se muito com o tal primeiro encontro; via-o na sua forma de contemplá-la em silêncio, não como um amante ou um conhecido, mas quase como se fosse um estranho.

Perguntou-se o que estava a ocorrer. Se era possível que não se lembrasse dela. Se realmente era o homem pelo qual se tinha apaixonado à velocidade de um raio nesse frio fim-de-semana de Julho.

– Donovan? – disse, com incerteza.

– Esperarias outra pessoa?

Com a cabeça inclinada, estreitou os olhos com um gesto tão conhecido por ela como o ângulo das suas maçãs do rosto e a grossura do seu lábio inferior. Sim, era Donovan Keane. Com o cabelo muito curto, o rosto mais agudo e duro, expressão fria como o vento do Antártico, mas sem dúvida Donovan.

– Depois do tom da tua mensagem, não sabia o que esperar – respondeu ela, batalhando por recuperar a compostura. – Mas não era com certeza que me olhasses dos pés à cabeça como se não me conhecesses.

Ele tinha alçado a toalha que levava ao pescoço para limpar o suor do rosto, mas isso não ocultou o clarão de emoção dos seus olhos.

– A minha mensagem não foi clara? – perguntou ele.

– Francamente, não.

A toalha deteve-se. Pela tensão da sua mandíbula e os lábios apertados, Susannah compreendeu que estava a controlar-se. Não era uma atitude fria e distante; lutava por ocultar a ira.

– Que parte necessito de esclarecer?

– A parte na que estás tão zangado comigo – disse ela, atónita pela sua hostilidade.

– Podes parar de te fazeres de inocente, Caracóis de ouro. Sabes bem o porquê de tudo isto.

«Fazer-me de inocente? Caracóis de ouro?» A confusão de Susannah transformou-se em irritação.

– Garanto-te que não me estou a fazer de nada.

– Então, deixa que eu te esclareça. Logo depois de passarmos um fim-de-semana juntos, um fim-de-semana como minha empregada e muito bem paga, a minha licitação para adquirir este complexo foi rejeitada.

– A tua licitação foi melhorada.

– Pelo grupo hoteleiro Carlisle, dirigido pelo teu grande amigo e parceiro de negócios, Alex Carlisle.

– A licitação do Alex foi legítima – afirmou ela.

– Isso foi o que me fizeram acreditar. Até que descobri, há uma semana, que também é teu noivo. Diz lá – seguiu num tom amável, – ele sugeriu-te que tentasses descobrir os detalhes da minha licitação? Foi assim que preparou uma contra proposta tão rápida?

– Isso não faz sentido – replicou ela, espantada pela incrível acusação. – A tua lembrança desse fim-de-semana parece gravemente distorcida.

– Talvez me devesses refrescar a memória – disse ele com voz serena, embora o seu rosto se tivesse contraído.

– Contrataste-me. Tiveste de me convencer a aceitar o trabalho. Avisei-te que poderia haver um conflito de interesses, dado que a minha mãe era proprietária de uma grande parte de The Palisades. Mas insististe. Querias-me a mim.

Os seus olhares chocaram um longo momento. O ar que os separava chispava, carregado de animosidade e também do calor que essas últimas palavras implicavam: «querias-me a mim». Era verdade, ele não podia discutir a realidade do seu desejo físico, mas tinha sido secundário perante a verdadeira razão pela qual tinha recorrido aos serviços da sua empresa.

– Querias-me porque a minha mãe era accionista – prosseguiu ela. – Querias que te recomendasse a ela, para que toda a junta votasse a favor da tua proposta. Mas quando me tiveste, confiaste-te. Só terias de ter sido um pouco mais agradável e a tua licitação teria ganho.

– Não fui agradável? – semicerrou os olhos.

– Quando regressaste à América não deverias ter evitado as minhas chamadas. Não te teria perseguido. Só tinhas de dizer «Divertimo-nos muito juntos, Susannah, mas não procuramos o mesmo. Fiquemos por aqui». Se não tivesses pensado que tinhas o negócio no papo, terias atendido as minhas chamadas em vez de te esconderes atrás da tua secretária…

Deteve-se, incomodada por ter revelado quanto o silêncio dele a tinha magoado. Mas depois endireitou os ombros e olhou-o nos olhos com dignidade.

– Só tinhas de ter atendido o telefone, Donovan. Pelo menos uma vez.

Ele continuou a olhá-la, com algo parecido à frustração espelhado no fundo dos olhos, e Susannah preparou-se para o ataque seguinte. Mas ele moveu a cabeça e caminhou para a janela. A chuva tinha-se transformado em chuvisco, e o céu estava pintado de um cinzento brumoso.

Ela pensou que era a mesma cor que os seus olhos tinham de manhã. Então ele virou-se e perfurou-a com aqueles olhos, sem rasto da suavidade de que se lembrava.

– A ver se entendo. Estás a dizer-me que perdi um negócio de mais de oito zeros, no qual andava a trabalhar há meses, por não te retribuir as chamadas? – Donovan soprou, incrédulo.

Dito assim, soava a vingança infantil, sem dúvida. O estômago de Susannah revolveu-se ao compreender que ele tinha razão. Na sua decisão tinha havido certa parte de vingança, e também muitos outros factores. Alçou a cabeça com orgulho.

– Foi mais complicado do que isso.

– A complicação chama-se Alex Carlisle. O teu noivo.

– Isso foi só uma das coisas – respondeu ela com cautela. Havia outra que Donovan Keane não deveria saber.

– Isso leva-nos de volta à minha pergunta original.

Com movimentos pausados, voltou-se para ela. A determinação do seu rosto fez com que Susannah estremecesse de ansiedade. Não necessitava que lhe dissesse que pergunta era. Referia-se à que tinha deixado no seu atendedor na noite anterior: «O teu noivo sabe que te deitaste comigo?».

A pergunta interpôs-se entre eles como um muro. Susannah não teve de dizer nada. Sabia que ele tinha lido a resposta nos seus olhos e que não valia a pena negá-la. Mas ficava uma coisa por dizer, e muito importante.

– Nessa altura eu não estava comprometida com o Alex.

– No entanto, estás aqui. Só posso pressupor que queres proteger o teu obscuro e sujo segredo.

Os olhos de Susannah arregalaram-se perante essas palavras. Retiravam todo o valor a algo que ela tinha considerado especial, muito embora tivesse sido uma verdadeira ingénua ao julgar que tinham partilhado algo mais do que uma aventura de fim-de-semana.

– Como não entraste em contacto com o Alex, deduzi que queres algo de mim, em troca de manter o silêncio sobre o meu… erro de julgamento.

Os olhos dele cintilaram, feridos. Um ponto para ela, que deu asas ao seu maltratado ego.

– Porque voltaste cá, Donovan? – perguntou. – O que queres de mim?

– Quero saber como e quando é que o Carlisle se envolveu nisto. The Palisades não estava oficialmente no mercado. Fiz todo o trabalho, eu convenci-os para que vendessem – cravou os olhos nela, impiedosos. – Propuseste tu o acordo?

– Sim – admitiu Susannah um pouco depois. – Mas só…

– Nada de mas nem sós. Se tu o meteste no negócio, podes voltar a tirá-lo.

– Como esperas que faça isso? – alçou a voz, incrédula. – Horton aceitou a oferta de Carlisle. Os contratos já estão redigidos.

– Redigidos, mas não assinados.

Com certeza que não estavam assinados, não o estariam até se terem cumprido as duas partes do trato que tinha negociado com Alex.

– Para mim tanto faz como o faças – disse ele, vestindo uma camisola. – É um problema teu.

Atónita pela audácia da ordem, Susannah demorou uns segundos a compreender o que significava essa camisola.

– Vais-te embora? – perguntou alarmada.

– Já dissemos o suficiente por enquanto. Deixo-te para que faças as chamadas necessárias.

Todos os seus instintos clamaram para que o detivesse, para lhe explicar a impossibilidade de fazer o que lhe pedia mas, mesmo que lhe custasse admiti-lo, ele tinha razão. Necessitava de pensar, considerar as suas opções e decidir a quem devia telefonar.

– Uma dessas chamadas deveria ser para a tua mãe – disse ele da porta. – Pergunta-lhe o que sabe sobre eu ter retribuído ou não às tuas chamadas. E, já agora, não estaria mal se vocês chegassem a um acordo sobre que história contarão a respeito do teu compromisso.

 

 

Afinal tinha telefonado.

Há uma semana, segundo Miriam Horton, que estava no escritório de Melbourne da empresa de contratação de serviços de portaria e viagens de Susannah. A sua mãe não era uma empregada permanente, graças a Deus, mas ajudava quando fazia falta. Muitas vezes quem necessitava ajuda não era Susannah, mas Miriam. Apesar de pertencer a vários comités benéficos e dirigir a Horton Holdings, Miriam necessitava de fazer ainda mais para preencher o vazio deixado pela morte do seu esposo, três anos antes.

Carecia que a necessitassem, algo que Susannah entendia muito bem.

O que não entendia era que Miriam não lhe tivesse comunicado a chamada de Donovan. Há uma semana atrás. Uma semana que tinha passado a trabalhar com ela, preparando-a para se encarregar de tudo durante a sua ausência, que duraria duas semanas.

Susannah caminhou para a janela, perguntando-se como a sua mãe podia ter-lhe ocultado isso.

– Ias com o Alex visitar o rancho familiar – justificara-se a sua mãe. – Sei que estavas nervosa por conhecer a sua mãe e convencer os seus irmãos de que tinha escolhido a esposa adequada. Não queria acrescentar mais um fardo.

– Um cliente nunca é um fardo – disse Susannah.

– Um cliente? – Miriam estalara a língua com desaprovação. – Ambas sabemos que o Donovan Keane trespassou essa fronteira.

– Deverias ter-me dito que ele tinha ligado.

– De que teria servido, querida?

«Teria estado preparada para a sua reaparição. Poderia ter preparado uma explicação e não fazer figura de parva», pensou.

– Não me teria apanhado desprevenida quando voltou a telefonar.

– Eu disse-lhe, com toda a clareza, que nunca mais voltasse a ligar – disse a sua mãe após um momento de silêncio.

– Não tinhas nenhum direito a fazer isso.

– Uma mãe tem sempre o direito a proteger a sua filha – replicou Miriam, – tal como descobrirás quando fores mãe. Esse homem utilizou-te e depois pôs-te de lado. Agora estás comprometida com um homem honrado em cuja palavra podes confiar. É preciso que to relembre?

Não era preciso, mas as últimas palavras de Donovan ressoaram nos seus ouvidos.

– Que lhe disseste sobre o meu compromisso?

– Não recordo as palavras exactas.

– Mencionaste quando aceitei a proposta do Alex? – quando a sua mãe fez um som vago, de incerteza, Susannah ficou gelada. Miriam Horton tinha uma capacidade lendária para recordar nomes, lugares e dados. Isso convertia-a num valioso, embora importuno, membro da equipa da sua empresa. – Disseste-lhe que já estava comprometida quando nos conhecemos?

– Talvez ele tenha chegado a essa conclusão, mas não vejo que importância poderia ter.

Susannah apertou a ponta do nariz, entre exasperada e resignada. Por fim entendia porque ele a tinha olhado com tanto desprezo.

– Disseste que te tinha telefonado – comentou Miriam.

– Ontem à noite. Está aqui, mãe. Na Austrália.

– Por favor, diz-me que não vais vê-lo, Susannah. Por favor diz-me que não é a razão pela qual o Alex telefonou hoje para me perguntar onde estás. Parecia nervoso, cortante e um pouco… aborrecido.

Susannah imaginou que seria bastante mais do que um pouco. E não o culpava. Após decidir voar para lá, tinha tentado telefonar para lhe dizer que ia de viagem para pensar nas coisas, mas ele não tinha respondido… isso estava a converter-se na história da sua vida.

Com a pressa de se organizar e chegar ao aeroporto a tempo, tinha pedido à sua meia-irmã que lhe comunicasse a sua viagem. Não duvidava que Zara lhe teria dado a mensagem, e que não teria revelado mais além do estritamente essencial.

No entanto, Susannah acabava de comprovar quão pouco fiável podia ser a transmissão de mensagens… e as suas consequências. A ideia de enfrentar outro homem enfurecido incomodava-a, mas tinha de ser. Tinha de comunicar a Alex que estava bem, que não o tinha abandonado e que só tinha sentido pânico quando ressurgiu um problema do seu passado. Continuava a ter a intenção de casar com ele.

Foi até ao escritório e agarrou no auscultador. Nesse remoto recanto do país, os telemóveis não tinham cobertura, o que era positivo ou negativo, dependendo do cliente. Imaginava que tanto Alex como Zara tinham tentado localizá-la e estariam surpreendidos pelo seu desaparecimento, já que nunca apagava o telemóvel e não tinha dito aonde ia.

Dado o cúmulo de mal-entendidos, não revelar o seu destino tinha sido uma grande sorte. Um encontro entre Donovan e Alex só levaria a um desagradável confronto. Ela tinha enredado as coisas, e ela devia desenredá-las.

Começando pelo telefonema para Alex e terminando com a explicação que Donovan merecia.