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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Susan Macias Redmond

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Doces palavras, n.º 17 - Maio 2014

Título original: Sweet Talk

Publicado originalmente por HQN™ Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), acontecimentos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, HQN e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagens de capa utilizadas com a permissão de Dreamstime.com.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5130-6

Editor responsable: Luis Pugni

 

Conversión ebook: MT Color & Diseño

Índice

 

Portadilla

Créditos

Índice

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

Seis

Sete

Oito

Nove

Dez

Onze

Doze

Treze

Catorze

Quinze

Dezasseis

Dezassete

Dezoito

Dezanove

Vinte

Vinte e um

Volta

Um

 

Claire Keyes atendeu o telefone assim que tocou. Pensou que era melhor suportar uma chamada da agente, do que arrumar a pilha de roupa suja que havia no meio do salão.

– Sim?

– Olá, eh... Claire? Sou Jesse.

«Não é a agente», pensou, aliviada.

– Jesse?

– A tua irmã.

Claire afastou uma camisa com um pontapé e sentou-se no sofá.

– Jesse? – sussurrou. – És mesmo tu?

– Surpresa!

A palavra «surpresa» não servia para descrever aquilo. Claire passara anos sem falar com a irmã mais nova. Não a via desde o funeral do pai, quando tentara entrar em contacto com a família que restava. Na altura, tinham-lhe dito que não era bem-vinda, que nunca seria. Tinham-lhe dito que, se fosse atropelada por um autocarro, nem Jesse, nem Nicole, a irmã gémea, se incomodariam em chamar uma ambulância.

Claire recordava-se de que ficara tão atordoada com aquele ataque verbal, que sentira falta de ar. Sentira-se como se lhe tivessem dado uma tareia e a tivessem deixado numa valeta. Jesse e Nicole eram a sua família. Como podiam rejeitá-la assim?

Sem saber o que fazer, fora-se embora da cidade e não voltara. Tudo isso acontecera há sete anos.

– Bom... – começou por dizer Jesse, com uma alegria que parecia forçada. – Como estás?

Claire abanou a cabeça, tentando esclarecer os seus pensamentos, e olhou para o apartamento desarrumado. Havia roupa suja, empilhada no salão, malas abertas junto do piano, um monte de cartas que não queria enfrentar e uma agente que estava disposta a esfolá-la viva para conseguir o que queria.

– Estou muito bem – mentiu. – E tu?

– Muito bem, mas esse é o problema. Nicole não está bem.

Claire agarrou o telefone com força.

– O que se passa?

– Nada... Ainda. Vai ter de ser operada. À vesícula. Tem algo estranho. Não me lembro. De todos os modos, não podem fazer a operação fácil, com as incisões diminutas. A lapa...

– Laparoscopia – murmurou Claire, distraidamente, olhando para o relógio. Faltava meia hora para a aula.

– Sim. Em vez disso, vão ter de a abrir como uma melancia, o que significa que demorará mais tempo a recuperar. Com a padaria e tudo isso, há um problema. Gostaria de a ajudar, mas não posso, neste momento. As coisas são... Complicadas. Portanto, estivemos a falar e Nicole gostava de saber se poderias voltar para casa e tomar conta de tudo. Agradeceria muito.

«Casa», pensou Claire, com melancolia. Poderia ir para casa, voltar para o lar que mal recordava, mas que estava sempre nos seus sonhos.

– Pensava que Nicole e tu me odiavam – sussurrou, com medo de ter esperanças.

– Estávamos muito tristes. A morte do pai foi um momento cheio de emoções. A sério, há muito tempo que falamos em entrar em contacto contigo. Nicole teria... Eh... Ligado. Mas não se sente bem e tinha medo que lhe dissesses não. Não está em condições de enfrentar isso, agora.

Claire levantou-se.

– Nunca diria não. Claro que irei para casa. São a minha família, as duas.

– Muito bem. Quando podes estar aqui?

Claire olhou à sua volta, para o desastre que era a sua vida, e pensou nas chamadas furiosas de Lisa, a sua agente. Também tinha de pensar na aula a que tinha de ir e nas que tinha de dar no fim de semana.

– Amanhã – afirmou, com firmeza. – Posso estar aí amanhã.

 

 

– Dá-me um tiro, agora – queixou-se Nicole Keyes, enquanto limpava a bancada da cozinha. – Falo a sério, Wyatt. Deves ter uma arma, fá-lo. Eu escreverei uma carta, a dizer que não foi culpa tua.

– Lamento. Não há armas em minha casa.

«Na minha também não», pensou, com desânimo.

– Não podia haver pior momento para esta cirurgia estúpida. Disseram-me que não poderei trabalhar, que terei de esperar seis semanas. Seis. A padaria não se gere sozinha... E não te atrevas a dizer para pedir ajudar a Jesse. Falo a sério, Wyatt!

O ex-cunhado levantou as duas mãos.

– Não direi uma palavra. Juro.

Ela acreditava. Não porque pensava que o assustava, mas porque sabia que, embora uma parte da sua dor viesse da sua vesícula doente, a maior parte era consequência da traição da irmã, Jesse.

– Odeio isto. Odeio que o meu corpo me falhe desta maneira. O que lhe fiz?

Wyatt afastou uma cadeira da mesa.

– Senta-te. Zangares-te não vai ajudar.

– Não sabes.

– Suponho.

Deixou-se cair na cadeira, porque era mais fácil do que discutir. Por vezes, como naquele momento, interrogava-se se ainda teria forças para lutar.

– O que não fiz? Penso que fiz tudo. Sabes que não poderei cuidar de Amy durante algum tempo, não sabes?

Amy era a filha de Wyatt, de oito anos. Nicole cuidava dela, algumas tardes por semana.

Wyatt inclinou-se para a frente e pôs-lhe a mão no braço.

– Relaxa – tranquilizou-a. – Não te esqueceste de nada. Vou dar uma vista de olhos à padaria, de dois em dois dias. Tens pessoas competentes a trabalhar para ti. Adoram-te e são leais. Vai correr tudo bem. Voltarás para casa ao fim de alguns dias e começarás a recuperar.

Sabia que ele se referia a algo mais do que a operação. Também havia o assunto do ex-marido.

Em vez de pensar naquele desgraçado, Drew, olhou para a mão que Wyatt pousara no seu braço. Tinha mãos grandes, com cicatrizes e calejadas. Era um homem que sabia o que era trabalhar. Honrado, bonito e divertido.

Olhou para ele nos olhos.

– Porque não me apaixonei por ti?

Ele sorriu.

– Eu digo o mesmo, miúda.

Teriam ficado tão bem, juntos... Oxalá houvesse química.

– Devíamos ter-nos esforçado mais – murmurou ela. – Devíamos ter ido para a cama.

– Pensa nisso por um segundo – pediu Wyatt. – Diz-me se te sentes excitada com a ideia.

– Não posso.

Sinceramente, pensar em ter relações sexuais com Wyatt deixava-a nervosa, mas não de um modo agradável. Ele era como um irmão. Oxalá o meio-irmão de Wyatt, Drew, lhe tivesse causado a mesma sensação.

Infelizmente, ardera de desejo com ele.

Recostou-se na cadeira e observou Wyatt.

– Bom, já chega de falar de mim. Devias casar outra vez.

Pegou na chávena de café.

– Não, obrigado.

– Amy precisa de uma mãe.

– Nem tanto.

– Há mulheres fantásticas por aí.

– Refere uma que não sejas tu.

Nicole pensou durante um minuto e suspirou.

– Posso dizer-te mais tarde?

 

 

Claire chegou ao aeroporto SeaTac à tarde, sentindo-se muito inteligente por ter organizado a viagem sozinha. Até alugara um carro, sozinha. Em circunstâncias normais, teria recorrido a um táxi, mas teria de ir e voltar do hospital, e ir à padaria. Nicole ia precisar que fizesse recados. Fazia sentido dispor de um carro.

Depois de lutar para tirar as duas malas enormes do tapete rolante, pegou nelas e arrastou-as para a escada rolante. Quando chegou ao escritório da Hertz, tinha a respiração entrecortada e lamentava ter vestido aquele casaco de lã tão largo. O suor caía-lhe pelas costas e a camisola de caxemira colava-se ao corpo.

Esperou na fila, emocionada por estar ali, nervosa e decidida a fazer o necessário para recuperar a relação que tinha com as irmãs. Estavam a dar-lhe uma segunda oportunidade e não ia estragar tudo.

A mulher do balcão fez um gesto, para que se aproximasse. Claire obedeceu, arrastando as duas malas.

– Olá! Tenho uma reserva.

– Nome?

– Claire Keyes.

Claire entregou-lhe a carta de condução e o cartão de crédito.

A empregada examinou os documentos.

– Tem seguro ou quer fazer um para o carro?

– Gostaria de ficar com o vosso.

Era mais fácil do que explicar que não tinha carro e que, na verdade, nunca tivera. Só tinha carta de condução, porque decidira ter aulas quando fizera dezoito anos e estudara e praticara até passar no exame.

– Multas ou acidentes? – perguntou a mulher.

Claire sorriu.

– Nenhum.

Para isso, teria de conduzir. Algo que só fizera uma ou duas vezes nos últimos anos.

Assinou alguns impressos e a mulher devolveu-lhe a carta de condução e o cartão de crédito.

– Número sessenta e oito. É um Malibu. Disse que queria um de tamanho médio. Posso oferecer-lhe algo maior, se quiser.

Claire pestanejou.

– Número sessenta e oito?

– O seu carro. Está no lugar sessenta e oito. As chaves estão na ignição.

– Oh, obrigada. Não, não quero um maior.

– Muito bem. Quer um mapa?

– Sim, por favor.

Claire guardou o mapa na mala e arrastou as malas para fora da estrutura de vidro. Passou à frente das filas de carros, encontrou o número sessenta e oito e ficou a olhar para o Malibu prateado.

Tinha quatro portas e era enorme. Engoliu em seco. Ia mesmo conduzir? Aquela era uma pergunta para mais tarde. Primeiro, tinha de sair do estacionamento.

O desafio número um foi pôr as malas no porta-bagagem. Não havia maneira de o abrir. Não havia botões, nem puxadores. Empurrou, puxou, mas o porta-bagagem não abria. Por fim, rendeu-se. Pôs as duas malas no banco traseiro e sentou-se ao volante.

Demorou alguns minutos a ajustar o assento, para chegar aos pedais. Pôs a chave na ignição e girou-a. O motor começou a trabalhar imediatamente. Com cuidado, ajustou os espelhos e respirou fundo. Estava a caminho.

Depois, ligou o sistema GPS e carregou nos botões para selecionar a língua, passando pelo holandês, o japonês e o francês, até uma voz feminina a cumprimentar em inglês.

Introduziu a morada da padaria. Esquecera-se de perguntar o nome do hospital onde Nicole iria ser operada, portanto, achou que o melhor lugar para começar era a padaria. Finalmente, preparou-se para sair do estacionamento.

Tinha um nó na garganta. Ignorou-o, para além de ignorar o formigueiro que sentia nas costas e se espalhava por todo o corpo.

«Agora não», pensou, freneticamente. «Agora não». Poderia sentir pânico depois, quando não estivesse a conduzir.

Fechou os olhos e respirou fundo, e imaginou a irmã na cama do hospital, a precisar de ajuda. Tinha de estar lá. Com Nicole.

A sensação de pânico mitigou um pouco. Abriu os olhos e iniciou a viagem.

O estacionamento parecia ser escuro e fechado. Felizmente, não havia mais carros na fila da frente, portanto, teria espaço extra para virar, quando saísse.

O veículo começou a mexer-se. Carregou no travão e o carro parou. Soltou o travão e o carro começou a andar. Centímetro a centímetro, conseguiu tirá-lo do estacionamento. Quinze minutos depois, dirigia-se para a estrada.

– A trezentos metros, vire à direita. I5 é à direita.

A voz do GPS era muito autoritária, como se ela não soubesse conduzir, nem soubesse para onde ia, em particular.

– I5 o quê? – perguntou Claire, antes de ver um sinal que indicava a entrada para a autoestrada I5. E então, deu um grito. – Não posso ir para a autoestrada – indicou ao GPS. – Temos de continuar pelas estradas secundárias.

Ouviu um barulho.

– Vire à direita.

– Mas eu não quero!

Olhou à sua volta, freneticamente, mas não havia outra forma de continuar. A estrada em que estava dirigia-se para a autoestrada. Não podia virar à esquerda, porque havia muitos carros no caminho. Carros que, de repente, começaram a mexer-se muito depressa.

Claire agarrou o volante com as duas mãos, com o corpo rígido e a mente cheia de imagens de acidentes.

– Eu consigo – encorajou-se. – Eu consigo.

Carregou um pouco mais no acelerador, até atingir os setenta e cinco quilómetros por hora. Aquilo era velocidade suficiente, não era? Quem precisava de ir mais depressa?

Um camião enorme colocou-se atrás dela e buzinou. Claire deu um salto. Havia muitos carros atrás dela, aproximando-se a grande velocidade. Estava tão ocupada a tentar não se assustar com os carros que circulavam à sua volta, que se esqueceu do seu destino. Até o sistema GPS lhe recordar:

– I5 norte é à direita.

– O quê? Que direita? Quero ir para norte?

De repente, a estrada mudou e deu por si a virar. Queria fechar os olhos, mas sabia que aquilo seria mau. Começou a suar, sentindo medo. Queria tirar o casaco, mas não podia. Agarrava o volante com tanta força, que lhe doíam os dedos.

«Estou a fazer isto por Nicole», recordou-se. Pela irmã. Pela família.

A faixa desembocava na I5. Sem passar dos setenta e cinco quilómetros por hora, Claire manteve-se na faixa da direita e jurou que ia ficar ali até ter de sair da autoestrada.

Quando, finalmente, saiu a norte do distrito da universidade, estava a tremer. Odiava conduzir. Odiava. Os carros eram horríveis e os condutores eram indelicados, pessoas más que só sabiam gritar. No entanto, conseguira. E isso era o mais importante.

Seguiu as indicações do GPS e conseguiu estacionar no parqueamento mais próximo da padaria. Parou o carro, apoiou a testa no volante e respirou fundo.

Quando conseguiu acalmar-se, endireitou-se e olhou para o edifício que estava diante dela.

A padaria Keyes estava no mesmo lugar há oitenta anos. Ao princípio, os bisavôs tinham arrendado apenas metade do edifício. Com o tempo, o negócio crescera. Tinham comprado o edifício inteiro há sessenta anos.

Havia duas montras cheias de produtos de confeitaria, bolos, biscoitos e pães, com os respetivos letreiros. Por cima da porta, havia um letreiro enorme que anunciava a Padaria Keyes, a que tinha o melhor bolo de chocolate do mundo.

Com várias camadas de chocolate, o bolo fora elogiado pela realeza e por presidentes, era servido pelas noivas nos casamentos e exigido por artistas e famosos, como requisito imprescindível nos seus cenários de rodagem e nos bastidores. Tinha milhões de calorias, era feito com farinha, açúcar, manteiga, chocolate e um ingrediente secreto que passava de geração em geração, na sua família. Nem sequer Claire sabia qual era. No entanto, saberia. Nicole teria de lhe dizer.

Saiu do carro, pegou na mala e fechou a porta do condutor. Respirou fundo outra vez e dirigiu-se à padaria.

Era meio-dia e estava tudo relativamente tranquilo. Havia duas senhoras sentadas na mesa do canto, a beber um café e a comer bolos. Entre as cadeiras, havia dois carrinhos de bebé. Claire sorriu, enquanto se dirigia para o balcão. A empregada, uma adolescente, olhou para ela.

– Posso ajudá-la?

– Sim. Espero que sim. Sou Claire. Claire Keyes.

A adolescente, uma morena gordinha, de olhos castanhos, enormes, suspirou.

– Muito bem. O que deseja? O pão de alho e alecrim acabou de sair do forno.

Claire sorriu, esperançosamente.

– Sou Claire Keyes – repetiu.

– Já ouvi.

Claire apontou para o letreiro que havia na parede.

– Keyes. Sou irmã de Nicole.

A adolescente esbugalhou os olhos.

– Meu Deus, não! É mesmo a menina? A pianista?

Claire tremeu.

– Sou concertista.

Solista. Mas não havia razão para subtilezas.

– Vim por causa da operação de Nicole. Jesse ligou-me e pediu-me para...

– Jesse? – gritou a rapariga. – Não. Fala a sério? Oh, meu Deus! Não consigo acreditar! – gritou. E deu um passo atrás. – Nicole vai matá-la, se é que ainda não o fez. Eu... – levantou a mão. – Espere aqui, está bem? Volto já.

Antes de Claire conseguir falar, a rapariga correu para a porta das traseiras.

Claire pôs a mala ao ombro e olhou para as vitrinas. Havia vários bolos, alguns biscoitos e fatias de pão. O estômago queixou-se e recordou-se de que ainda não comera nada. Estava demasiado nervosa no avião, para comer alguma coisa.

Talvez pudesse levar um pouco daquele pão de alho e alecrim, passar pelo supermercado para...

– O que está a fazer aqui?

Claire olhou para o homem que se dirigia para ela. Era corpulento, com um aspeto duro, pele bronzeada e um corpo que dava a entender que fazia trabalho manual ou passava muito tempo no ginásio. Claire fez o possível para não franzir o nariz, ao ver a camisa aos quadrados e as calças de ganga desgastadas.

– Sou Claire Keyes – apresentou-se.

– Sei quem é. Perguntei-lhe o que faz aqui.

– Na verdade, usou um tom irritado. Faz toda a diferença.

Ele semicerrou os olhos.

– Ah sim?

– Esse tom indica que estou a incomodar. Não quer saber o que faço aqui, só quer dar-me a entender que não sou bem-vinda. O que é estranho, tendo em conta que não me conhece.

– Sou amigo de Nicole. Não preciso de a conhecer, para saber tudo o que tenho de saber.

Claire não entendia nada. Se Nicole ainda estava zangada com ela, porque é que Jesse ligara e lhe dissera o contrário?

– Quem é?

– Wyatt Knight. Nicole casou com o meu meio-irmão.

Nicole casara-se? Quando? Com quem?

Sentiu uma grande tristeza. A irmã nem sequer se incomodara em dizer-lho, não a convidara para o casamento. Aquilo era patético.

A emoção refletiu-se no rosto de Claire Keyes. Wyatt não se incomodou em analisá-la. As mulheres e os seus sentimentos eram um mistério que um homem mortal devia deixar por resolver. Tentar decifrar a mente feminina podia levar um homem a entregar-se à bebida e matá-lo.

Observou-a atentamente, procurando as semelhanças com Nicole e Jesse. Era loira, alta e esbelta. «Os olhos, possivelmente», pensou, ao ver que eram azuis. «Talvez a forma da boca. A cor do cabelo... Mais ou menos». Nicole era loira. Claire tinha uma dúzia de matizes diferentes no cabelo.

No entanto, o resto era diferente. Nicole era sua amiga, alguém que conhecia há muitos anos. Uma mulher bonita, mas normal. Claire vestia-se de branco, dos pés à cabeça. Até o casaco era branco. Usava botas e uma mala bege. Era como uma princesa do gelo... Uma princesa malvada.

– Gostaria de ver a minha irmã – pediu Claire, com firmeza. – Sei que está no hospital, mas não sei em qual.

– Não vou dizer-lhe. Não sei porque veio, menina, mas posso dizer-lhe que Nicole não quer vê-la.

– Não foi isso que me disseram.

– Com quem falou?

– Com Jesse. Disse-me que Nicole ia precisar de ajuda, depois da operação. Ligou-me ontem, e eu apanhei um avião, esta manhã. Não me vou embora, senhor Knight. E não pode obrigar-me. Vou ver a minha irmã. Se prefere não me dar a informação, ligarei para todos os hospitais de Seattle, até a encontrar. Nicole é a minha família.

– Desde quando? – murmurou ele. Reconhecera o trejeito de teimosia no queixo dela e a decisão da voz. As gémeas tinham aquilo em comum.

Porque é que Jesse o fizera? Para causar mais problemas? Ou estaria a tentar resolver uma situação desesperada? A verdade era que Nicole ia precisar de ajuda, mas não queria pedi-la. Faria tudo o que pudesse, mas também tinha de gerir o seu negócio e cuidar de Amy. Nicole não ia querer que Drew aparecesse por ali, no caso de o irmão preguiçoso não estar escondido em algum lado. Jesse era uma opção ainda pior, por isso, não restava ninguém.

«Porque tinha de tomar esta decisão?», praguejou.

– Onde vai alojar-se?

– Em casa, naturalmente.

– Muito bem. Fique lá. Nicole sairá do hospital dentro de alguns dias. Poderá falar disto com ela, quando voltar.

– Não vou esperar alguns dias para a ver.

Egoísta, caprichosa e narcisista. Wyatt recordou a lista de queixas que Nicole tinha sobre a irmã. E, naquele momento, todas faziam sentido para ele.

– Ouça – começou por dizer, – pode esperar em casa ou voltar para Paris, ou onde quer que seja que vive.

– Nova Iorque – esclareceu Claire, em voz baixa. – Vivo em Nova Iorque.

– Onde quer que seja. O que quero dizer é que não vai ver Nicole, até ter alguns dias para recuperar, mesmo que eu tenha de montar guarda na porta do quarto. Entendido? Já está a sofrer o suficiente agora, e depois da operação, para ter de suportar mais incómodos.

 

Dois

 

Claire perdeu as forças e Wyatt ficou com a sensação de que era um idiota. Pensou que ela só estava a fingir, que nascera para enganar as pessoas e que aperfeiçoara a técnica à medida que crescia. Dizia que a irmã era importante para ela. Então, porque não aparecera durante todos aqueles anos que tinham passado, desde que conhecera Nicole? Nem nos aniversários, nem no maldito casamento. Também perdera a licenciatura de Jesse. Sabia fazer-se de vítima, isso era tudo, mas não ia permitir que o apanhasse nas suas redes.

Quando pensou que ia virar-se e ir-se embora, ela endireitou os ombros, ergueu o queixo e olhou para ele nos olhos.

– A minha irmã ligou-me.

– É o que diz.

– Não acredita...

– Não me importo o suficiente, para me preocupar com isso.

Ela inclinou a cabeça e o cabelo comprido e brilhante caiu sobre um ombro.

– É um bom amigo para Nicole. Espero que saiba apreciá-lo.

Portanto, passara à adulação. Provavelmente, aquele era um plano eficaz para alguém que não estivesse de sobreaviso.

– Jesse ligou-me – continuou ela. – Falou-me da cirurgia. Tem de perceber que é verdade, porque, de outro modo, como poderia saber? Jesse também me disse que Nicole precisava que eu a ajudasse e que se alegraria por me ver. E sinto-me mais inclinada a acreditar nela do que em si.

– Posso dizer-lhe que, vinte minutos antes da operação, Nicole não sabia que ia aparecer. Acredite, ela ter-me-ia dito.

Claire franziu o sobrolho ligeiramente.

– Isso não faz sentido. Porque é que Jesse haveria de mentir? E porque é que o senhor haveria de mentir?

– Eu não minto.

Parecia que estava verdadeiramente confusa e quase acreditou nela. Aquela situação era um enredo e tinha a assinatura de Jesse. A questão era... Porque o fizera? Para piorar a situação ou porque realmente queria ajudar Nicole? Com Jesse, não era fácil adivinhar.

– Vou ficar – decidiu Claire, – é melhor que saiba. Vou ficar, vou ao hospital e...

– Não.

– Mas eu...

– Não.

Olhou para ele.

– É muito decidido.

– Protejo os meus.

Nos olhos de Claire, refletiu-se algo triste que não quis identificar.

– Muito bem. Esperarei em casa, até Nicole voltar do hospital – acedeu, finalmente. – Depois, eu e a minha irmã resolveremos a situação que está a acontecer.

– Seria melhor voltar para Nova Iorque.

– Não vou seguir o caminho mais fácil, nunca o fiz. Suponho que tenho uma profissão arriscada.

Não sabia do que estava a falar. Pensaria que alguém podia acreditar que tocar piano para um punhado de ricos na Europa era arriscado?

Encolheu os ombros. Não podia obrigar a irmã de Nicole a desaparecer. Desde que não tentasse incomodar Nicole no hospital, manter-se-ia neutro.

– Nicole voltará para casa dentro de alguns dias? – perguntou Claire.

– Mais ou menos.

Ela sorriu.

– Parece que está empenhado em esconder-me informação, senhor Knight, mas como vou viver na mesma casa, Nicole acabará por saber que voltei.

– Como queira...

O sorriso apagou-se dos lábios de Claire.

– Não gosta de mim.

Não se incomodou em responder.

– Nem sequer me conhece – continuou ela. – Não é justo.

– Sei o suficiente.

Claire ficou rígida, como se aquilo tivesse sido um duro golpe. «Egoísta e sensível», pensou ele, com tristeza. Que combinação.

Ela virou-se e saiu da padaria. Wyatt seguiu-a, para verificar se entrava no carro e se afastava. Olhou para o parqueamento, pensando que ia encontrar uma limusina ou um Mercedes. No entanto, Claire tinha um carro de aluguer, de tamanho médio, de quatro portas, com as malas no banco traseiro.

– Trouxe tanta roupa – indicou, sem conseguir conter-se, – que nem sequer cabe no porta-bagagem.

Parou e olhou para ele.

– Não. Só trouxe essas malas.

– E o que tem contra o porta-bagagem? Tem medo de partir uma unha?

– Dedico-me a tocar piano, portanto, não uso unhas compridas – informou Claire e endireitou-se novamente, como se quisesse preparar-se. – E como já referi, vivo em Nova Iorque, onde não tenho carro. Não sei como abrir o porta-bagagem.

Wyatt entendeu porque se preparara. Estava à espera que a insultasse novamente. Pensou em centenas de respostas. Quem não sabia abrir o porta-bagagem de um carro? Até a filha de oito anos sabia fazê-lo.

O que o impediu de lho dizer foi o facto de ela estar à espera do golpe e, mesmo sabendo que não gostava dela, lhe ter revelado um ponto fraco. Wyatt não se importava de ser malicioso, mas não era um valentão.

Aproximou-se dela, tirou-lhe as chaves da mão e apontou para o chaveiro.

– Nunca viu um destes? Os desenhos indicam o que cada botão faz.

Carregou num e abriu o porta-bagagem.

Claire sorriu.

– A sério? É só isso? – aproximou-se e olhou para o espaço amplo. – É enorme. Podia ter trazido mais malas. Há mais botões?

Estava demasiado entusiasmada.

– Não sai muito, pois não?

O sorriso dela tornou-se mais rasgado.

– Menos do que pensa.

– Fechar portas, abrir portas, botão de pânico.

– É fantástico!

Era como uma criança, com um brinquedo novo. Tinha de estar a brincar com ele.

– Obrigada – agradeceu. – A sério, senti-me uma tonta no estacionamento do escritório, a olhar para o carro como se não soubesse o que fazer – acrescentou e franziu o nariz. – Oxalá conduzir até aqui tivesse sido tão fácil. As pessoas têm de conduzir, obrigatoriamente, tão depressa?

Wyatt não sabia o que pensar. Pelos poucos comentários que Nicole fazia sobre a irmã, sabia que não devia confiar nela. No entanto, embora fosse tão inútil como Nicole dizia, aquela mulher não era fria, nem distante.

De todos os modos, não era um problema dele.

Devolveu-lhe as chaves. Ela aceitou-as e, por um segundo, possivelmente dois, tocaram-se. Os seus dedos tocaram na palma da mão de Claire. Não foi importante. À exceção da súbita labareda.

«Meu Deus», pensou Wyatt. Afastou a mão e enfiou-a rapidamente no bolso. «Não, não, ela não. Meu Deus, qualquer pessoa menos ela».

Claire continuava a tagarelar, certamente, para lhe agradecer. Não a ouvia. Estava a interrogar-se porque é que, de todas as mulheres do mundo, tinha de sentir uma atração sexual ardente por aquela.

 

 

A voz feminina e suave do GPS conduziu Claire à casa em que passara os seis primeiros anos da sua vida. Encontrou um lugar para estacionar na rua da frente e parou o carro. Saiu e fechou a porta. Com um sentimento tolo de orgulho, por ter conseguido, deu a volta à casa e encontrou a chave no lugar que Jesse indicara. Abriu a porta das traseiras e entrou.

Passara anos sem entrar naquela casa. «Quase doze», pensou, recordando a única noite que passara sob aquele teto, depois da morte da mãe. A noite em que Jesse a observara como se fosse uma estranha, enquanto Nicole olhava para ela com ódio. A irmã gémea não se conformara com o silêncio. Aos dezasseis anos, não se importava nada de dizer o que pensava.

– Mataste-a! – gritara. – Levaste-a e mataste-a. Nunca te perdoarei. Odeio-te! Odeio-te!

Lisa, a agente de Claire, levara-a dali. Tinham-se alojado numa suíte do Four Seasons, até passar o funeral. Dali, tinham ido diretamente para Paris. «Primavera em Paris», dissera Lisa. A beleza daquela cidade iria ajudá-la.

Não fora assim. Só o tempo conseguira sarar as feridas, mas as cicatrizes tinham ficado para sempre. Primavera em Paris. Sempre que ouvia aquela canção, lembrava-se da morte da mãe e de Nicole a gritar com ela.

Claire afastou todas aquelas lembranças da sua mente e entrou na cozinha. Estava diferente. Era mais moderna e maior. Parecia que Nicole reformara a casa ou, pelo menos, algumas partes. Contornou as escadas e descobriu que várias das divisões pequenas tinham sido transformadas num espaço mais amplo. Havia um grande salão com móveis confortáveis, cores quentes e um armário de parede que escondia uma televisão de ecrã plano e outros aparelhos eletrónicos. A sala de jantar estava igual. O quarto pequeno que havia naquele andar fora transformado num escritório.

A casa estava escura e fria. Encontrou o termóstato e ligou o aquecimento. Também acendeu alguns candeeiros, mas não conseguiu fazer com que a casa ficasse mais acolhedora. Talvez o problema não fosse a casa. Era ela e as lembranças que não desapareciam.

A última vez que fora a Seattle fora para o funeral do pai. «Recebi uma chamada de um homem, talvez do próprio Wyatt», pensou Claire, enquanto se sentava no sofá, «que me informou que o meu pai morrera». Dissera-lhe a data, hora e lugar em que o funeral ia ter lugar e desligara.

Ficara devastada. Nem sequer sabia que ele estava doente, ninguém lhe dissera.

Sabia o que pensavam. Que não se importava com a própria família, que não os amava. O que tentara explicar muitas vezes é que eles é que a tinham mandado embora. As irmãs tinham podido ficar ali, onde se sentiam seguras, onde tinham amor, mas Nicole nunca o vira desse modo, pois sempre estivera furiosa.

Claire acariciou o tecido suave do sofá. Nada daquilo lhe era familiar. Wyatt tinha razão. Aquele não era o seu lugar. No entanto, não se iria embora. Nicole e Jesse eram a única família que tinha. Talvez tivessem ignorado as suas chamadas e as suas cartas durante anos, mas agora voltara e não se iria embora sem falar com as irmãs. Até fazerem as pazes.

Levantou-se e subiu as escadas. Havia três quartos no piso superior. Deteve-se no principal. Pelas cores da decoração e os objetos que havia no quarto de vestir, certamente, aquele era o quarto de Nicole. No outro extremo do corredor, havia os outros dois quartos e a casa de banho comum.

Um deles era o típico quarto de hóspedes, com uma cama pequena e cores neutras, e o outro era num tom violeta, com cartazes nas paredes e uma mesa com um computador, num canto.

Claire entrou naquele quarto e olhou à sua volta. Cheirava a baunilha.

– O que fizeste? – perguntou em voz alta. – Jesse, porque me enganaste? Nicole vai mesmo perdoar-me?

Queria acreditar desesperadamente na irmã, mas não conseguia. Wyatt fora muito convincente, ao demonstrar a sua antipatia.

A injustiça de um estranho, a julgá-la assim, fazia com que lhe doesse o peito, mas sobrepôs-se àquela sensação. De algum modo, conseguiria resolver tudo aquilo.

Voltou para o andar de baixo e dirigiu-se para a porta principal. Pelo caminho, viu a escada estreita que levava à cave. Sabia o que havia lá.

Todas as células do seu corpo pediam que não o fizesse, que não baixasse o olhar, mas dirigiu-se para a porta e, lentamente, continuou a descer.

As escadas abriam-se para a cave. No entanto, o que antes era um espaço aberto estava fechado com uma parede, com uma só porta. Nicole não o destruíra e Claire não soube o que pensar. Significava que ainda havia esperança ou que a reforma causara muitos problemas?

Claire hesitou, com a mão na maçaneta. Queria mesmo entrar?

Quando Nicole e ela tinham três anos de idade, os pais tinham-nas levado a casa de uns amigos. Era um lugar onde nenhuma das meninas estivera antes. Ao princípio, a visita não tivera nada de especial. Era um dia chuvoso de Seattle, com as duas meninas presas dentro de uma casa cheia de adultos.

Um dos convidados tentara entreter as meninas, tocando piano. Nicole aborrecera-se e afastara-se, mas Claire sentara-se no banco, fascinada com as teclas e com o som que produziam. Depois do almoço, voltara para o piano, sozinha. Era muito pequena para ver as teclas pretas e brancas, mas sabia onde estavam e pusera-se em bicos de pés, cuidadosamente, para tocar uma das canções.

Apesar de ser tão pequena, Claire recordava-se de tudo o que vivera naquela tarde. Recordava de que a mãe fora procurá-la e ficara a observá-la durante muito tempo. Recordava-se de que a sentara no colo, à frente do piano, onde podia tocar aquela música tão bonita com mais facilidade.

Nunca conseguira explicar como sabia qual a tecla que produzia determinado som ou como a música começara a viver dentro dela, a ferver, até transbordar. Era uma daquelas coisas enigmáticas, uma peculiaridade da herança genética.

A mãe também sentara Nicole ao colo, mas ela não demonstrara interesse pelo piano e, quando pusera as mãos diminutas no teclado, só fizera ruído.

Aquele momento mudara tudo. Claire começara as aulas dois dias depois. Nessa altura, tinham começado as obras para transformar a cave num estúdio insonorizado. Pela primeira vez, na sua vida, as gémeas não estavam a fazer o mesmo e ao mesmo tempo. A música, o dom de Claire, interpusera-se entre elas.

Abriu a porta. Viu o piano que parecia ser tão perfeito e belo quando era pequena. Supôs que o facto de o comprar fora um grande esforço económico para os pais. Claire tocara em muitos dos pianos mais famosos do mundo, mas aquele era o que melhor recordava.

Olhou para ele. Viu que a tampa estava coberta de pó. Provavelmente, ninguém lhe tocava há anos e seria necessário afiná-lo.

Não sentiu vontade de tocar. A ideia de se sentar e tocar no teclado causava-lhe ansiedade. Obrigou-se a respirar com calma. Não tinha de tocar, se não quisesse fazê-lo. Não havia problema. Não tinha de inventar desculpas para evitar as aulas. Estava muito longe daquele mundo.

O pânico embargou-a. Afastou-o. No entanto, permaneceu. Portanto, foi para o andar de cima, para terreno seguro. Depois de subir as escadas, pôde respirar com mais facilidade.

«Vou ignorar o piano», pensou. Fingiria que não estava lá. Só queria afiná-lo. Depois de uma infância de aprendizagem com ele, não ia permitir que ficasse assim.

Deixou «o monstro» na cave e dirigiu-se para o carro, para lutar com as duas malas. Arrastou-as pelas escadas, para o quarto de hóspedes, e voltou à cozinha para comer alguma coisa.

Não havia muita comida em casa. Encontrou uma lata de sopa e pô-la a aquecer. Enquanto isso, pegou na lista telefónica e começou a ligar para os hospitais, até lhe dizerem, num deles, que tinham internado a irmã e se ofereceram para passar a chamada para o balcão das enfermeiras. Claire recusou e desligou.

Ouvira a boa notícia de que a operação correra bem, porque Nicole estava num quarto e não na UCI. A má era que, segundo Wyatt, não sabia que estava ali e não queria vê-la. Percorrera todo aquele caminho para nada?

Consultou o telemóvel, por costume, e viu que tinha duas mensagens de Lisa. Como a agente não devia ter nada para lhe dizer, que ela quisesse ouvir, Claire apagou-as sem se incomodar em ouvi-las.

Comeu a sopa de pé, junto do lava-louça, diretamente da panela. Enquanto isso, observou o pequeno pátio da casa.

Sabia quando as coisas com Nicole se tinham estragado. Sabia qual era o problema. Então, porque não conseguia resolvê-lo?

Tinha importância? Agora, estava ali, decidida a conseguir fazer com que Nicole e Jesse fizessem parte da sua vida. Independentemente do que dissessem ou fizessem, não iam livrar-se dela. Ia conseguir fazer com que a amassem e ia amá-las. Eram a sua família e isso era mais importante do que qualquer outra coisa.