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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Laura Wright

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um conto de fadas, n.º 558 - abril 2019

Título original: Charming the Prince

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-019-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

 

Francesca Charming não acreditava em contos de fadas, embora o seu apelido em inglês significasse que tinha poderes para fazer encantamentos, mas uma pessoa podia mudar de opinião se pisasse aquele empedrado carregado de história e o estandarte púrpura e dourado de Llandaron flamejasse ao cálido vento da manhã sobre a fortaleza que se elevava regiamente perante ela.

O castelo de sete andares, de pedra branca e de uma elegância refinada, erguia-se numa escarpa sobre o Oceano Atlântico. Uma escadaria de mármore ascendia sinuosamente até um enorme portão. Centenas de janelas emolduradas em madeira verde observavam Fran, e duas torres brancas apontavam para um céu cristalino a ambos os lados do impressionante edifício.

O aroma a bosque e a mar faziam com que, pouco a pouco, se esquecesse do trabalho e dos motivos que a tinham levado a…

– Bem vinda a Llandaron, minha senhora.

Fran sobressaltou-se ao ouvir o cumprimento animado e voltou-se.

Um jardineiro que estava a podar uma esplendorosa madressilva piscou-lhe o olho.

– É a primeira vez que visita o castelo? Deve tê-la deixado sem respiração, não foi?

Toda a magia do momento se desvaneceu e deu lugar à realidade. Fran não tinha ido a Llandaron para se deixar levar por uma fantasia infantil. Tinha ido àquele pequeno Estado insular para trabalhar, para ganhar o dinheiro que lhe permitiria pôr em marcha o sonho de toda a sua vida, a sua única meta: abrir uma clínica para animais em Los Angeles.

Agarrou com força a maleta de veterinária e cumprimentou o jardineiro.

– Sim, sou a Dr.ª Charming – disse num tom profissional. – Cheguei esta manhã. Ando à procura dos estábulos, é por aqui?

O jardineiro assentiu com a cabeça.

– Siga por esse caminho e chegará lá. Pergunte por Charlie, ele é o encarregado – voltou-se para se ocupar de um pequeno abeto. – Ele mostra-lhe o sítio.

– Obrigada.

Fran voltou-se e continuou a avançar pelo caminho, sem poder evitar que o seu olhar se prendesse em cada detalhe.

Todos os livros que tinha lido sobre Llandaron elogiavam a sua beleza exuberante e silvestre na Primavera, mas essas palavras não lhe faziam justiça. Caminhava pelo jardim cuidado com esmero que conduzia aos imponentes estábulos e observava a relva de um verde incrível que se estendia a perder de vista, salpicada de minúsculas flores encarnadas e violetas, entre árvores centenárias e arbustos minuciosamente podados.

Llandaron, a apenas cento e cinquenta quilómetros da Cornualha, na Inglaterra, parecia um mundo à parte.

Fran agarrou com mais força a maleta e dirigiu-se para os estábulos, tentando aparentar um ar confiante. Os cavalos relinchavam à sua passagem, e ela acariciou-os antes de prosseguir pelo pátio à procura de um homem chamado Charlie.

No entanto, ao chegar à última box, ficou paralisada. A cena surpreendente fez com que lhe fraquejassem as pernas, com que se lhe secasse a garganta e se lhe acelerasse o pulso, como o ribombar de um tambor.

Um homem, de costas para ela, com o tronco nu, atirava feno com uma forquilha para dentro da box que tinha ao seu lado. Fran, sem parar de pensar no que estava a fazer, deixou que o seu olhar vagueasse desde as velhas botas e subisse pelas desgastadas calças de ganga que delineavam umas coxas fortes e musculosas que culminavam num traseiro realmente admirável. Passou a língua pelos lábios e prosseguiu. Tinha uma cintura muito fina e umas costas largas, bronzeadas e musculosas, que resplandeciam de suor.

Deixou escapar um suspiro. Para seu espanto, o homem voltou-se ao ouvi-la e deparou-se com ela a observá-lo.

– Olá – cumprimentou com um sorriso.

O sotaque era típico de Llandaron e a palavra surgiu nos seus lábios sensuais como se fosse chocolate derretido.

Fran não conseguia articular palavra. Os homens não a impressionavam e costumava mostrar-se distante, mas aquele exemplar de dois metros, de cabelo preto, abundante e ondulado, traços bem esculpidos e espessas sobrancelhas sobre uns olhos azuis e profundos, não se parecia com nenhum homem que tivesse visto até então.

Baixou a vista para o seu peito coberto de pelos e de poderosos músculos. Tinha o que algumas amigas suas chamavam uns abdominais de tirar o fôlego. Pensou que era uma visão que valia a pena e cerrou os punhos para evitar que as mãos se aproximassem para tocar naquele peito impressionante.

Reuniu todo o sangue frio que foi capaz, aclarou a garganta e adoptou um tom seguro de si.

– Deve ser Charlie.

Ele apoiou-se despreocupadamente no umbral da porta e olhou-a fixamente, até o seu sangue ferver.

– Devo ser?

O tom que utilizava não deixava claro se se tratava de uma pergunta ou de uma resposta, mas ela não lhe deu grande importância. Não ia permitir que aquele homem se apercebesse de como estava nervosa.

– Sou a Dr.ª Francesca Charming; as pessoas chamam-me Fran.

Os seus irresistíveis olhos iluminaram-se ao compreender tudo.

– A veterinária dos Estados Unidos.

– Da Califórnia.

Observou-a lentamente com o seu perverso olhar azul, até se deter na sua boca.

– Loira, bronzeada, de pernas compridas e uns olhos lindos. Uma perfeita rapariga da Califórnia.

Fran sentiu-se como se as suas calças de algodão castanhas e a sua camisa azul se tivessem, de repente, transformado numa lingerie preta de renda. Reparou que o rubor se apoderava das suas faces. Não podia ser, ela era uma mulher da cidade e não corava nem balbuciava como uma colegial. Era ela quem fazia os homens tímidos corar, desde que não se apercebessem da insegurança que se escondia detrás daquela fachada de confiança que exibia.

– Já me observou o suficiente? – perguntou, erguendo um pouco o queixo. – Ou prefere que eu dê uma volta?

Ele levantou a vista para se encontrar com os seus olhos. Tinha uma expressão divertida.

– Acho que lhe devia perguntar o mesmo.

Fran engoliu em seco. Tinha toda a razão.

– E então? – perguntou ele com um sorriso.

– Então o quê?

Ele desenhou um círculo no ar com o dedo.

– Foi você quem o propôs, Dr.ª Charming. Acho que é justo que a veja de costas, depois de ter estado a olhar para mim durante tanto tempo.

Fran abriu muito os olhos.

– Eu não fiz tal coisa! Para além disso… bem, não vou dar volta nenhuma… era só… não era mesmo…

Ele sorriu.

– Está bem, talvez noutra ocasião.

– Não me parece.

Fran desviou o olhar enquanto pensava porque é que tinha decidido ir para Llandaron. Olhou para o enorme gabinete à sua direita; tinha móveis muito confortáveis e janelas em todas as paredes. Por fim, encontrou o que procurava. Junto a uma varanda aberta e deitada sobre umas almofadas verdes, estava uma cadela wolfhound linda, com a barriga distendida e os olhos de um castanho aguado. O sol penetrava na divisão através da persiana e envolvia a cadela numa luz pálida.

Há dez dias atrás, ela não sabia nada sobre o rei Oliver nem sobre a sua wolfhound, mal sabia onde Llandaron ficava, mas o seu sócio e em breve noivo formal, o Dr. Dennis Cavanaugh, recebeu a incumbência «real». A reputação que Dennis tinha conquistado graças aos animais de estimação dos ricos e famosos de Los Angeles, fazia com que fosse constantemente convidado para sítios incríveis, mas desta vez estava demasiado ocupado com o cachorrinho de certa estrela de cinema para poder deixar o país. Dennis recomendou Fran para o trabalho e ela, que precisava de alguma distância para pensar, decidiu aliar esse facto à generosa retribuição e aceitar a oferta.

A wolfhound olhou para Fran como se perguntasse quem ela era e o que fazia ali. Fran sorriu.

– És um bichinho lindo – disse ela enquanto percorria os escassos passos que a separavam do gabinete e estendia a mão à maçaneta da porta.

No entanto, antes de que pudesse abrir, uma mão imponente pousou-se sobre a sua, provocando-lhe uma vaga de calor em todo o braço.

– Permita-me.

Fran deixou escapar um leve suspiro enquanto desviava a mão bruscamente.

– Espero não lhe ter dado um choque – brincou ele enquanto abria a porta para a deixar passar.

Ela entrou rapidamente.

– Não fez nada.

Ele riu-se.

– Tem a certeza? – perguntou com sarcasmo.

Fran dirigiu-se à sua paciente com as faces em brasa. Estava embaraçada com a sua reacção tão disparatada ao toque daquele homem, e por ter mentido ao dizer que não lhe tinha feito nada.

Se dependesse dela, dir-lhe-ia que a podia deixar a sós, que ela trataria de tudo, mas sabia também que a cadela estaria mais calma se houvesse alguém conhecido por perto, e a saúde do animal era mais importante do que umas ridículas palpitações.

– Então tu és a minha paciente… – disse Fran, com uma voz calma, enquanto se sentava ao lado do animal.

Começava a dissipar-se a inquietude causada pela presença do provocador moço de estrebaria. Estava com o seu paciente, estava no seu terreno.

– Chama-se Grand Dame Glindaron.

O homem demorou apenas alguns segundos a agachar-se junto a ela, com as calças de ganga desgastadas cingidas às pernas musculosas. O peito estava agora tapado por uma t-shirt preta bastante velha.

– Mas chamamo-lhe Glinda.

– Glinda… – Fran aproximou a mão e deixou que a cadela a cheirasse. – Como a bruxa boa?

– A bruxa boa? – repetiu ele.

– Sabe… Do feiticeiro de Oz… – olhou-o fixamente. – Glinda, a bruxa boa – ele parecia não perceber nada. – É um filme.

Ele sentou-se sobre os calcanhares.

– Ah! Aqui não vemos dessas coisas.

Fran abriu os olhos de par em par.

– O que diz?

Ele sorriu com um ar travesso.

– Muito engraçado, Charlie – replicou Fran, apanhada.

Ele baixou o olhar por um instante e Fran sentiu-se aliviada, como se tivesse encontrado uma sombra debaixo de um sol abrasador, embora não conseguisse desviar o olhar dele. Tinha uma boca irresistível e um corpo demolidor. Era uma combinação fatal para uma mulher que tinha renunciado à atracção sexual em troca de carinho.

Fran tentou com todas as suas forças formar uma imagem de Dennis, mas não conseguiu. Os olhos do moço de estrebaria eram poderosos e persistentes. Se esse tipo quisesse deixar de trabalhar nos estábulos, com certeza poderia fazer fortuna como hipnotizador.

– Na realidade, em Llandaron gostamos de bons filmes – disse enquanto fazia festas a Glinda atrás da orelha. – A família real também gosta e penso que o Feiticeiro de Oz é um dos filmes favoritos do rei.

– Fico feliz por saber que Sua Majestade tem bom gosto, tanto no que se refere ao cinema quanto aos animais.

Fran tirou um termómetro e o estetoscópio da maleta. Tinha deixado que Glinda se familiarizasse com a sua voz e com os seus movimentos e tinha chegado o momento de se pôr a trabalhar. Se o perturbador moço de estrebaria pretendesse ficar por ali, ela teria que o ignorar o melhor que pudesse.

Glinda e ela adaptar-se-iam uma à outra e não teria que voltar a lidar com esse tipo.

– É você quem cuida de Glinda? – Fran adoptou um tom profissional.

– Não lhe tiro os olhos de cima.

– Então, gostaria de lhe fazer algumas perguntas, se não se importar.

Ele inclinou a cabeça.

– Com certeza.

– Come e bebe?

– Come menos e bebe mais.

– Sangrou ou vomitou? Teve diarreia?

– Não.

– Muito bem – aproximou-se mais da cadela. – Faça-lhe festas e mantenha-a calma enquanto eu a examino.

Ele ergueu uma sobrancelha com um ar divertido.

– Está a pedir-me ajuda, doutora?

– Se não se importar…

– Porque é que me ia importar?

– Não quero desviá-lo do seu trabalho.

– O meu trabalho?

Fran indicou os estábulos com a cabeça.

– Limpar os estábulos e dar de comer aos animais…

– Ah! Claro, o meu trabalho… – os olhos lançaram um brilho azul. – Posso fazer uma pausa de uns minutos.

Fran sentiu um formigueiro na barriga que a apanhou de surpresa, mas recompôs-se.

– Está bem, mas não quero causar-lhe problemas com o seu chefe, por isso, se o entretiver tempo a mais, diga-me.

– É muito atencioso da sua parte – replicou ele com um riso trocista, – mas não tem com que se preocupar. O meu chefe e eu damo-nos muito bem.

Depois de lhe medir a temperatura, Fran auscultou o coração e os pulmões do animal, assim como dos cachorrinhos que carregava no ventre. Passou um bom bocado com a cadela extraordinariamente saudável, feliz por ter uma distracção do arrebatador moço de estrebaria. Nunca antes se tinha sentido tão perturbada e atraída por alguém. Nem por nenhum dos homens bem parecidos de Los Angeles, nem sequer por Dennis.

– As gravidezes dos wolfhound podem ser muito perigosas – disse ele enquanto Fran examinava os olhos e os ouvidos do animal. – Dou por assente que você é uma especialista nestes casos.

– Esse boato é verdade.

– Há outros boatos? – inclinou-se sobre Glinda e Fran abriu a boca da cadela para lhe observar os dentes.

– Claro – manteve um tom natural, enquanto fazia tudo o possível por não inalar o delicioso aroma masculino que se desprendia dele, – mas são todos mentira ou, pelo menos, meias verdades.

– Ainda assim, adoraria ouvi-los.

Fran apertou os lábios, pensativa.

– Acho que não são apropriados para os cândidos e inocentes habitantes de Llandaron.

O olhar que lhe dirigiu deixava bem claro que ele não era nem cândido, nem inocente.

Como se ela não o soubesse.

– O que pensa de Llandaron, doutora. Charming? – perguntou ele, aproximando-se perigosamente.

– Bem, estou cá há apenas umas horas, mas o que vi até agora é… – ficou sem fôlego quando ele desviou o olhar descaradamente para a sua boca.

– Impressionante? – o tom rouco de barítono envolvia-a como se fosse de seda e aço.

– Sim… – respondeu ela numa espécie de sussurro indeciso que tinha ouvido a algumas mulheres nos filmes, mas que nunca tinha ouvido sair da sua boca.

«O que é que lhe estava a acontecer?» Pensou enquanto sentia uma brisa de ar salgado entrar pela janela. O que se passava com ela? Talvez devesse ter ficado em Los Angeles com Dennis e deixado que outra pessoa fizesse aquele trabalho.

Fran afastou da sua mente aquela ideia descabida. Era verdade que aquele homem a atraía, mas não ia passar disso, nem ia interferir no seu trabalho.

– Llandaron é verdadeiramente impressionante – comentou o homem, resgatando-a das suas reflexões. – As pessoas daqui têm muito orgulho do seu país, da sua beleza imaculada e da sua existência pacífica.