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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Sara Orwig

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Vítima do engano, n.º 2275 - março 2017

Título original: Seduced by the Enemy

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2010

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9433-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Quando Abby entrou na sala de reuniões forrada a carvalho, naquela manhã de sábado do mês de Agosto, olhou directamente para os electrizantes olhos cor de café de Nick Colton. Quando o olhar dele se cravou no seu, Abby estremeceu.

Alto, atractivo e sensual, Nick Colton era um impiedoso rival do seu pai e afigurava-se perigoso para o bem-estar de Abby. Mas esses olhos de fartas pestanas mantinham-na hipnotizada mesmo que o bom senso lhe dissesse que interrompesse o contacto visual. Sem deixar de encará-la, Nick Colton avançou para ela. Tinham-se cruzado noutras reuniões, mas não se conheciam formalmente. Ela sempre se apercebera da sua presença porque normalmente sobressaía em qualquer grupo que integrasse, e hoje não era uma excepção.

Vestido com calças de algodão grosso e uma camisa azul-escura, parecia pronto para acudir a uma festa informal, não a uma reunião com construtores. Um leve sorriso curvava-lhe as comissuras dos seus lábios sensuais. Tinha um aspecto sereno e todo o seu corpo exalava confiança. Quando se aproximou dela, Abby sentiu o pulso a acelerar-se.

– Por fim conhecemo-nos – disse ele com voz grave estendendo-lhe a mão. – Sou Nick Colton.

A sua mão envolveu a de Abby com um gesto ardente e firme.

– Abby Taylor, e sei perfeitamente quem é – respondeu. – Tenho a certeza que todos os presentes nesta sala o reconhecem. Pelo que sei, o caminho do meu pai e o do seu progenitor cruzaram-se alguma vez no mundo empresarial – acrescentou, consciente de que aquela frase tão inofensiva não definia propriamente o acérrimo antagonismo de ambos os homens.

– Sim, mas infelizmente, nós não nos conhecíamos até agora – respondeu Nick com doçura enquanto Abby retirava a mão. – Ah! Mas tratemo-nos por tu, por favor. Pelo que sei, vais ser a nossa ligação à imprensa, portanto trabalharás comigo.

– Sim. E tu estás à frente do grupo que começará a construir uma casa. O trabalho de hoje será uma mudança importante para ti.

Nick encolheu os seus largos ombros.

– Há muito tempo, passei mais de um ano no mundo da construção. O trabalho que vamos fazer hoje é por uma magnífica causa.

– Não esperava que fosses dos que se oferecem como voluntários para levar a cabo trabalhos solidários nos quais haja que suar forte e feio. Terei de reconsiderar a opinião que formei sobre ti – disse Abby, consciente da impressionante altura do sujeito. Ela media um metro e oitenta, e costumava ser igual ou mais alta do que a maioria dos homens que conhecia. Mas Nick devia ultrapassar os dois metros de altura.

– Gostaria de descobrir mais detalhes da opinião que possuis sobre mim – assegurou ele. E a electricidade que havia entre eles aumentou vários voltímetros.

– És um grande rival do meu pai, não me parece que desejes ouvir as minhas opiniões sobre a tua pessoa – respondeu ela com ligeireza.

Nick arqueou uma sobrancelha.

– Agora espicaçaste-me verdadeiramente a curiosidade, e tenho de descobrir o que pensas de mim. Tenho a pele muito dura.

Abby riu-se e a ele brilharam-lhe os olhos.

– Duvido muito que o teu ego tolere os meus pontos de vista – assegurou.

– A minha auto-estima é suficientemente poderosa para suportar uma descarga de críticas. Põe-me à prova e vais ver – desafiou-a com um lampejo de impaciência no olhar. – Quando tivermos terminado com este projecto de construção, convido-te para jantares comigo esta noite. Um serão juntos proporcionar-me-á tempo para escutar a tua mordaz exposição sobre o meu carácter.

– Queres fazer vida social com o inimigo? – perguntou Abby. Já conheces o provérbio: a curiosidade matou o gato.

– Tu e eu não podemos ser rivais – respondeu ele com suavidade. – Isso é algo que devo rectificar de imediato, portanto dá-me uma oportunidade – a sua voz rouca resultava tão sensual como o veludo, tal como os seus olhos escuros e os seus lábios grossos. Argumentar com ele resultava divertido, acrescentava picante a uma manhã que Abby esperava que fosse ser aborrecida. O convite resultava tentador.

– Demorarias anos a emendar tudo – informou-o com brusquidão, sorrindo para dissimular o veneno das suas palavras.

– Caramba, isso é que é um desafio – respondeu Nick baixando ainda mais a voz. – Agora tens de aceitar e permitir que melhore a percepção que tens de mim.

Abby sorriu, considerou a possibilidade e soube que, apesar das brincadeiras, aquele homem era um oponente que o seu pai detestava. A proposta de Nick para irem jantar era comparável com uma proposta para ir nadar com um tubarão. Deveria negar-se educadamente, mas a ideia de sair com Nick excitava-a, porque lhe parecia um desafio.

– Suponho que poderia dar-te uma oportunidade – respondeu sem dar importância ao assunto.

– Uma única oportunidade? – repetiu ele. – Então terei de impressionar-te… mais um desafio – assegurou nesse tom confuso que resultava tão sensual como uma carícia. – Estou desejoso que esta noite chegue. Vou precisar da tua morada – disse tirando a Blackberry do bolso das calças.

Enquanto falavam, Abby era consciente que havia pessoas que circulavam em volta deles e mais pessoas que chegavam, mas o que a rodeava era uma neblina e ela estava unicamente concentrada no homem alto que tinha à sua frente. Tirou-lhe o telefone e escreveu nele a morada do seu apartamento e o código para poder entrar. Depois devolveu-lhe o aparelho.

– Esta manhã temos de reunir-nos para receber instruções antes que todos se dediquem a cumprir com a tarefa atribuída – disse. – Disseram-me que te ofereceste como voluntário para dirigir o grupo que começará a construção de uma casa nova. Ed Bradford ofereceu-se para estar à frente dos que repararão uma antiga residência. Eu vou coordenar a relação destes grupos com a imprensa. Pensaram fazer-te uma breve entrevista sobre os trabalhos solidários e o que vais fazer hoje. Vais conceder-lhes essa entrevista, não vais? Os coordenadores da organização estão desejosos de conseguirem o máximo de propaganda para este evento, que conta com os executivos de elite da cidade como voluntários.

– Com certeza. Farei tudo o que me disseres – assegurou Nick pondo um ênfase sedutor na palavra «tudo».

Ela sorriu.

– Adoro ouvir isso – respondeu com naturalidade embora o seu comentário lhe tivesse provocado calafrios. – A imprensa pode reunir-se primeiro contigo – Abby olhou para o relógio. – Deverias estar na tua localização e ter a tua gente a trabalhar às dez da manhã no máximo. Dá-te jeito ao meio-dia?

– Ao meio-dia está óptimo. Tens a localização da propriedade na qual vamos construir? – perguntou.

– Sim. O Tarrant Hitchman vai-te fazer a entrevista, tem experiência.

– E vais estar com ele? – quis saber Nick.

– Sim, com certeza. Faz parte do meu trabalho. Estarei lá, embora nos bastidores.

– O meu fim-de-semana melhorou consideravelmente – respondeu Nick.

– Não te emociones, Nick Colton. Não te esqueças que somos inimigos.

– Não temos por que ser hostis um com o outro. Inclusive os países em guerra fazem tratados de paz. Verei o que posso fazer esta noite para remediar esta desavença – relembrou-lhe.

– Vejo-te às onze no teu lugar – afirmou com decisão antes de se ir embora. Um calafrio percorreu-lhe as costas porque sabia que ele estava a olhar para ela. Não pôde resistir a olhar para trás, e quando os olhares de ambos se cruzaram, o seu pulso voltou a acelerar-se.

Repreendendo-se a si própria por se ter virado para olhá-lo e alimentar assim a sua vaidade, Abby tentou concentrar-se em encontrar Ed Bradford, mas foi-lhe impossível tirar da cabeça que tinha um encontro para jantar com Nick Colton, o promotor imobiliário de trinta e dois anos, multimilionário e acérrimo inimigo do seu pai.

Naquela noite Nick beijá-la-ia, e a emoção fez com que o coração lhe batesse com força. Como seria beijá-lo? Desde aquele momento e até que chegou de carro ao lugar onde se ia levantar a construção, às onze, para a entrevista do meio-dia, afigurou-se-lhe impossível tirar Nick da cabeça.

Para sua surpresa, quando chegou já tinham levantado os alicerces. Nick estava em cima de uma escada a martelar. Tinha tirado a camisa azul, que estava atada num dos degraus inferiores. Protegia a cabeça com um capacete. Banhados pelo sol, os músculos de Nick retesavam-se e distendiam-se e a sua pele tinha um brilho de suor. Quando Abby deslizou livremente o olhar por ele, até às suas calças de ganga justas, conteve a respiração. Ao redor das estreitas ancas transportava um cinto de ferramentas. Assim que saiu do carro, um homem forte de olhos azuis e calças empoeiradas aproximou-se dela.

– Posso ajudar? – perguntou estendendo a mão. – Greg Bowder.

– Abby Taylor, muito prazer. Vim por causa da entrevista com Nick Colton.

– Estupendo. Venham todos comigo e conseguir-lhes-ei capacetes – viraram-se para esperar pela equipa de câmaras e pelo jornalista, e então Greg abriu caminho para a caravana que servia como escritório temporário. Quando todos já tinham dispostos na cabeça um capacete amarelo, dirigiram-se para Nick, que ainda estava na escada concentrado a martelar.

Greg assobiou e Nick deteve-se, olhando em volta. No instante em que viu Abby, sorriu, limpou o suor da nuca e desceu a escada.

– Ena, olá, Abby – disse colocando-se frente a ela.

– Olá, Nick – disse Abby tratando de manter a voz pausada. – Ainda falta uma hora para a entrevista, mas queremos ir instalando tudo. Nick, este é o Tarrant Hitchman.

– Muito prazer, Nick. Gostaria de fazer a entrevista na estrutura da parte de trás – sugeriu o jornalista.

– Os maiores avanços da construção estão neste extremo, portanto daqui terá um plano interessante – respondeu Nick encarregando-se da equipa de câmaras. – No caso de se colocar aqui, a perspectiva é mais ampla.

Surpreendida e ao mesmo tempo divertida ao comprovar que Nick tinha assumido o controlo da situação, Abby posicionou-se uns metros mais atrás. Observou como continuava a supervisionar tudo antes de se dirigir a ela. Tirou o capacete. Tinha o cabelo escuro pegado à cabeça. O seu aspecto resultava desalinhado, sensual e provocador.

– Podes sentar-te na caravana, tem ar condicionado – sugeriu-lhe detendo-se um par de centímetros mais perto do que deveria. Abby era plenamente consciente do seu corpo, e lutou contra o desejo de voltar a deslizar o olhar pelo corpo masculino.

– Estou surpreendida pelo muito que vocês avançaram esta manhã na construção. É bem difícil de crer que vás dedicar três sábados a esta tarefa.

– Hoje tivemos muita ajuda – Nick encolheu os ombros.

– Ouvi dizer esta manhã que doaste o terreno e os materiais para esta casa de caridade.

Nick sorriu e roçou-lhe suavemente a clavícula.

– Porque te estranha tanto que seja capaz de fazer alguma coisa por alguém?

– Tenho de admitir que terei de mudar a minha opinião acerca de ti – Abby sorriu. – Talvez não sejas o impiedoso e egocêntrico homem de negócios que eu imaginava. Suponho que sabes que é uma loucura irmos jantar juntos esta noite – acrescentou com certo ar de mistério.

– Isso é o que torna a vida interessante. Mantermo-nos afastados do aborrecido e do convencional. Dois inimigos a gozarem de uma trégua fora das horas de trabalho. E até esse momento chegar, se me dás licença, vou-me refrescar um pouco para a entrevista.

Abby despediu-se dele com a mão e viu-o afastar-se a passos largos. Nick aproximou-se de uma garrafa de água, abriu-a e deitou-a por cima. As gotas brilharam sob a luz do sol, proporcionando um brilho especial ao seu corpo viril. Após secar-se com uma toalha, voltou a colocar a sua camisa azul e dirigiu-se à caravana. Quando regressou, tinha a camisa metida para dentro das calças e o cabelo penteado. A entrevista desenvolveu-se dentro da mais completa normalidade. Nick parecia um profissional da televisão, mostrando-se sereno e seguro. Antes de terminarem, Abby enfiou-se no carro para se dirigir ao seguinte compromisso.

Era consciente que o seu pai e Nick tinham tido encontrões nos negócios, mas o ódio do seu pai por ele resultava tão irracional que se perguntou se haveria mais alguma coisa pelo meio. Talvez não fosse nada. O seu pai odiava os adversários, e Abby estava ciente que Nick o tinha suplantado em muitas ocasiões. Pertencia a uma geração mais jovem do que o seu pai, mas a sua ascensão no mundo imobiliário tinha sido meteórica. Com isso bastava para que o seu pai estivesse ciumento.

Naquela tarde, enquanto decidia o que vestir, lançou mão do telefone para desmarcar o compromisso com ele. O seu pai ficaria furioso se descobrisse que tinha saído com Nick. E não tinha nenhum futuro com ele. Absolutamente nenhum. Que sentido fazia ir jantar com ele? E se Nick lhe agradasse e ele lhe pedisse para voltarem a sair? Desprezando a ideia de cancelar o encontro, voltou a trocar várias vezes de roupa até se decidir por um vestido preto sem mangas e com decote em bico. Calçou umas sandálias pretas de salto e olhou-se ao espelho. Tinha o cabelo castanho apanhado no alto da cabeça. Como complemento, escolhera usar apenas o anel de rubis e diamantes que tinha pertencido à sua mãe. Viu as horas e constatou que Nick estava a ponto de chegar.

Como se lhe tivesse lido o pensamento, a campainha da porta tocou. Quando Abby abriu, deparou com ele vestido com um fato cinzento antracite, gravata vermelha e camisa branca. Estava incrivelmente bonito.

– Estás impressionante – disse ele por sua vez olhando-a com aprovação.

– Obrigada – comprazida com o elogio, Abby sorriu e deu um passo atrás. – Entra, enquanto eu vou buscar a minha mala.

– Obrigada. Gostaria de ver onde vives – disse entrando e fechando a porta.

– Estou aqui há um ano – comentou Abby entrando na soalheira divisão. – Esta é a sala.

– Tem muito a ver contigo– respondeu ele olhando atentamente em volta.

– Lamento, mas não me parece que nos conheçamos o suficiente para poderes concluir que um determinado tipo de decoração se ajusta à minha personalidade – assegurou Abby com firmeza.

– Permite-me que discorde. Esta sala é elegante, organizada e com móveis de boa qualidade. Mas ao mesmo tempo é acolhedora, inesquecível – assegurou Nick com um tom rouco que indicava que não estava a descrever realmente a sala.

Ela riu-se.

– Preparada para ir jantar fora?

– Sim – respondeu Abby dirigindo-se à entrada e ligando o alarme antes de sair com ele. – Programei o vídeo para gravar a tua entrevista e poder vê-la mais tarde – assegurou enquanto se dirigiam ao desportivo preto, um dos mais caros do mercado. – Lindo carro – observou.

– Gosto de coisas rápidas – respondeu Nick, também com duplo sentido. Abriu-lhe a porta do carro e Abby deslizou no luxuoso assento de couro. Estava acostumada a um estilo de vida confortável porque o seu pai sempre tinha sido um homem de sucesso, mas a riqueza de Nick superava largamente a da sua família. Ele sentou-se ao volante e depois ligou o motor.

– Já viste a minha entrevista, para que a gravas?

– Quero vê-la como a veriam os restantes. Imagino que haverá muitas mulheres que também a gravem.

– Deves pensar que sou um mulherengo – disse Nick sorrindo.

– Nem posso contar as vezes que vi a tua fotografia acompanhado por alguma beleza. Razão de mais para ter cuidado esta noite. Acho que estás acostumado a destruir corações.

– Mas que bela imagem tens de mim! Terei de rectificá-la.